Portugueses estão entre receio e otimismo sobre Moçambique
13 de novembro de 2013Os serviços consulares da Embaixada de Moçambique em Lisboa abrem ao público às 9 horas e 30 minutos, todos os dias úteis. O funcionário do Consulado tem 30 senhas de atendimento para distribuir por ordem de chegada.
À porta, desde as 8 da manhã, estão portugueses na sua maioria, que, entre outros assuntos, vieram solicitar vistos de entrada para fins diversos.
Um deles contou a DW África o que queria no consulado: "Eu aqui vim tratar um documento que me permita entrar lá, porque perdi o DIR (direito de residência) e agora preciso de uma autorização para viajar."
Um outro ainda queria um visto turístico para o seu filho que quer conhecer Moçambique.
Comparadamente com os meses de janeiro a setembro deste ano, antes de eclodir a crise político-militar, a fila tem agora menor afluência. Diminuiu significativamente o número de portugueses que vinham pedir vistos para Moçambique, devido ao efeito psicológico de um eventual regresso à guerra.
Apesar da instabilidade provocada pela onda de criminalidade e, sobretudo, pelo conflito político-militar – que opõe o Governo da FRELIMO, e a RENAMO, o maior partido da oposição – ainda há portugueses decididos a emigrar para Moçambique para fugir à crise e à falta de emprego em Portugal. Recursos naturais ainda são um atrativo?
O clima de paz que se vivia desde o Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, e o crescimento da economia moçambicana, reflexo das importantes descobertas de gás e carvão, fizeram de Moçambique um dos destinos apetecíveis da emigração portuguesa, em busca de melhores condições de vida.
Para lá foi Manuel Simões, com um projeto agrícola em Marraquene, perto da capital, Maputo: Desloquei-me com a intenção de desenvolver agricultura na área do arroz.
Apesar de não se sentir atingido pelos focos de tensão, o empresário de Coimbra vê a atual situação do país com preocupação: "A mim não me afeta, estou habituado a conflitos e turbulências, mas a maioria das pessoas mais sensiveis fica logo aflita. Para empresários instalados é muito difícil porque eu estou situado num só lugar, mas para quem tem de viajar ao logo do país é muito complicado. Conheço empresários que estão com as empresas paradas porque não se podem deslocar porque têm medo." Alguns desdramatizam a tensão
Izilda Correia viveu muitos anos em Moçambique até 1975. Tem lá duas filhas e três netos, que respetivamente trabalham e estudam em Maputo. Agora, com as férias, vai ficar com os netos.
Também ela está preocupada: "Porque a minha filha mais nova foi assaltada com o meu neto, roubaram-lhe tudo, tiraram-lhe o carro e até hoje não apareceu nem carro nem documentos nem nada."
Izilda Correia conta ainda que vai a Moçambique para acalmar a sua filha e vinca o que aumenta a preocupação dos que residem em Moçambique: "Este tipo de assaltos sempre aconteceram só que agora as pessoas estão mais atentas, dados os raptos e à instabilidade política que existe."
Carolina Madeira, formada em biologia marinha, viaja para Moçambique pela primeira vez. Fica apenas um mês para realizar trabalho de campo na sua área, em colaboração com a Universidade Eduardo Mondlane.
Esta jovem portuguesa não está muito preocupada com o que ouve nos órgaõs de informação: "Muito sinceramente não penso muito nisso. De qualquer forma acho que as notícias que saem nos media são um pouco exageradas no sentido do alarmismo e na minha perspetiva vai correr tudo bem." Carolina vai acompanhada do professor José Paula, da Universidade de Lisboa, que já esteve várias vezes em Moçambique: "Eu vim de lá há cinco dias. A situação pode ser preocupante, mas pelo menos nas zonas das principais cidades não se reflete na vida das pessoas."
Estes cidadãos têm fé. Acreditam que o conflito será resolvido e que Moçambique voltará à normalidade. Dizem que esta crise é conjuntural e que tão cedo o país retormará com tranquilidade o rumo do desenvolvimento.
É o que também defende o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Moçambique, João Navega: "Porque é um pequeno momento a que não devemos dar muito significado, será ultrapassado. Moçambique vai obviamente continuar a crescer e há razões de natureza estrutural que vão continuar a justificar um olhar muito atento, estratégico para este país, muito designadamente pelas grandes potências económicas e por outras."