Portugueses reclamam mau atendimento da Embaixada de Moçambique
23 de janeiro de 2013A fila de pessoas diante Embaixada de Moçambique em Lisboa é tão comprida, que se estende pela rua fora. A pequena sala frente aos guichês, onde apenas dois a três funcionários atendem o público, é demasiado pequena para o número de utentes diários dos serviços consulares. Que, na sua maioria, são cidadãos portugueses, como o comissário de bordo, Mário Moura: “fui atendido, mas só para me darem a senha. Agora estou à espera de ser atendido. Estou aqui desde as sete da manhã. É o terceiro dia que estou á espera disto”.
O atendimento demorado e a burocracia motivam reclamações. Esta utente conta que um dia encontrou outras senhoras que estavam na Embaixada desde as sete e meia da manhã. Uma das senhoras tinha a senha com o número 35: “A senhora contou-me que tinha sido a terceira a chegar, mas recebeu o número 35. Então onde foram parar as senhas do número um ao 35? Foram entregues no dia anterior não se sabe a quem. Por isso eu saí daqui às quatro e meia da tarde”.
Muitas queixas
De acordo com o mapa de atendimento, as segundas, terças e quintas são para requisições de todo o tipo. Às quartas e sextas-feiras, é a entrega dos passaportes com os vistos de entrada e permanência, quer para turismo quer para trabalhar em Moçambique.
Há quem se levante bem cedo para chegar à Embaixada pelas cinco da manhã, de modo a conseguir uma das senhas para entrega ou receção de pedidos, que são distribuídas a partir das nove horas. A DW África ouviu as queixas desta cidadã, que não quis identificar-se: “acho que é um conjunto de circunstâncias, incluindo um excesso de pessoas que recorrem aos serviços, falta de organização”. A utente queixa-se também da falta de civismo por parte de quem está à espera dos vistos e acaba por desesperar e passar à frente de outros. “Mas é mais por falta de quem está a atender. Eles é que têm que impor as regras, não somos nós”.
A situação degradou-se
É este o ambiente que carateriza o dia a dia de quem vem em busca de um visto. A representação moçambicana escusou-se a atender ao pedido de uma tomada de posição avançado pela DW África. Mas utentes de longa data realçam, que o serviço piorou muito. “Antes não era assim”, lamenta Francisco Sequeira que vem à Embaixada com frequência, há quatro anos, por estar ligado a uma agência de promoção turística e de negócios. “As coisas complicaram-se. Há pessoas com viagens marcadas para reuniões, mas a Embaixada não responde e têm que alterar viagens e reuniões. Alguma coisa tem que ser feita", sublinha.
Ainda este mês, as autoridades de migração moçambicanas ameaçaram repatriar várias dezenas de portugueses cujos vistos levantaram suspeitas. Oito cidadãos de nacionalidade portuguesa tiveram mesmo que regressar a Portugal. O reforço do controlo fronteiriço pelas autoridades de Maputo, que deixaram de conceder vistos no aeroporto da capital, fez aumentar a afluência à Embaixada nas últimas três semanas e tem criado alguns transtornos para quem tinha planos de viagem para Moçambique.
TAP fiscaliza vistos
O empresário Bernardo Pereira, ligado a negócios no mundo lusófono, e que já enfrentou obstáculos diversos para entrar em Angola, considera a burocracia um dos entraves à mobilidade: “Os vistos têm que servir para promover e não para limitar o acesso dos cidadãos dos países lusófonos”
Devido a estes episódios, a transportadora aérea portuguesa, TAP, apenas permite que viaje para Moçambique quem está devidamente munido do visto obtido em Portugal.
Autor: João Carlos/Lisboa
Edição: Cristina Krippahl/Helena Ferro de Gouveia