Prevenção é palavra de ordem para parar cólera em Moçambique
20 de fevereiro de 2015Na quinta-feira (19.02), o Presidente Filipe Nyusi convocou o Grupo de Emergência contra a Cólera para uma reunião em Maputo. "Não queremos estar atrasados, tendo em conta que a evolução histórica desta doença indicava que a qualquer momento estaria evitada em Moçambique", declarou o chefe de Estado no final do encontro.
O surto de cólera "parece estacionário" em Niassa e em Nampula, mas na província de Tete "os casos aumentam rapidamente", lê-se num comunicado divulgado quinta-feira pelo Ministério da Saúde, UNICEF, Organização Mundial de Saúde (OMS) e MSF.
Noutras províncias a prevenção é a palavra de ordem. Segundo Marco Artur, diretor do hospital distrital de Caia, na província de Sofala, foram constatados casos de diarreias agudas, mas não há ainda confirmação de um surto de cólera na região.
"Recolhemos amostras aqui no distrito de Caia, que enviamos para o laboratório provincial, e os resultados foram negativos. Por isso, ainda continuamos a tratar os casos como diarreias agudas", disse o médico em entrevista à DW África.
Alerta máximo nacional
Contudo, como algumas províncias já declaram um surto da epidemia, todo o cuidado é pouco. E depois de o Ministério da Saúde ter anunciado na terça-feira (17.02) alerta máximo para Moçambique devido à cólera, Marco Artur considerou a situação "preocupante e complexa".
"A cada dia que passa, algumas províncias vão anunciando o surto. A província de Tete também já teve casos de cólera. E como estamos muito perto de Tete estamos em alerta máximo", explica.
Por isso, as autoridades estão a trabalhar com as comunidades nas medidas preventivas de higiene. "Porque se as comunidades não acatam a nossa informação, só o tratamento clínico não nos irá a ajudar a combater o surto", sublinha.
O diretor do hospital distrital de Caia aponta o fraco saneamento e a falta de higiene individual e coletiva como algumas das causas que contribuíram para a eclosão deste surto, que afeta sobretudo crianças no norte e do centro de Moçambique. Estas regiões foram atingidas pelas cheias que mataram, desde 12 de janeiro, 159 pessoas e afetaram 185 mil.
"A maioria da nossa população não possui latrinas. A própria água que as pessoas bebem está bem próxima dos sítios onde acabam por fazer as suas necessidades, onde lavam a roupa. Por isso, a propagação é maior", lembra Marco Artur. "Por mais que tratemos os pacientes, se estes não deixaram a prática do fecalismo a céu aberto, principalmente nas margens dos rios e das lagoas, nada teremos a fazer."
Aposta na prevenção
No distrito de Marromeu, outra região perto de Tete e da Zambézia, as chuvas continuam a cair, o que preocupa a médica Nilza Ali. "Como a cólera normalmente é uma doença causada pela má higiene ou consumo de água imprópria, isso contribui para causar doenças diarreicas. Em Marromeu está a chover e isso também ajuda à propagação da doença", explica.
Embora não haja registo de qualquer caso de cólera, os técnicos de saúde em Marromeu continuam a trabalhar na prevenção, uma vez que são "vizinhos das províncias de Tete e da Zambézia e os casos confirmados foram em Tete e Nampula", lembra Nilza Ali.
Em Chibabava, a situação é de normalidade, mas a prevenção é a palavra de ordem, confirma Benildo Machehane, médico chefe distrital. "Já instalamos kits em todas as unidades sanitárias caso haja um surto de diarreia e também temos uma tenda para receber doentes se houver um surto e for preciso fazer investigação", revelou o médico.
Segundo Benildo Machehane, o distrito de Chibabava enfrenta muitos problemas de saneamento, nomeadamente devido à falta de água potável, o que faz com que a população utilize para tudo a água dos rios que passam pela região.