Prémio Mo Ibrahim de novo sem vencedor
14 de outubro de 2013Pelo segundo ano consecutivo, a Fundação Mo Ibrahim não atribuiu o prémio que distingue a boa governação em África, por considerar que nenhum ex-Presidente teve um "bom desempenho", após analisar os candidatos elegíveis.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que a Fundação divulgou o Índice de Governação Africana 2013, que, no plano geral, mostra que os níveis de governação em África continuam a melhorar, nomeadamente nas categorias de Desenvolvimento Humano, Oportunidade Económica Sustentável e, num grau menor, Participação e Direitos Humanos.
Dos lusófonos, zero à Guiné-Bissau
Cabo Verde desceu para o terceiro lugar no índice Ibrahim de Governação Africana de 2013, que avalia fatores como a educação, saúde, segurança, direitos humanos, desenvolvimento e economia de 52 países. Ainda assim, o arquipélago continua a ser o país lusófono melhor colocado na tabela, com 76,7 pontos, num total de 100.
Dos outros países de língua portuguesa, na lista da Fundação Mo Ibrahim, seguem-se São Tomé e Príncipe, no 11º lugar; Moçambique, em 20º; e Angola, em 39º; entre os 52 Estados africanos analisados.
O pior classificado dos países africanos de língua portuguesa continua a ser a Guiné-Bissau, que desceu uma posição, para o 46º lugar e está entre os 10 piores classificados.
Ninguém à altura
A Fundação Mo Ibrahim, homónima do milionário sudanês que a criou em 2006, apoia a boa governação e a liderança em África e elabora anualmente o índice Ibrahim, que visa informar e ajudar os cidadãos, sociedade civil, parlamentos e governos a medir o progresso.
Este ano, a instituição decidiu não entregar o prémio de excelência na Liderança Africana a nenhum dos ex-líderes reformados nos últimos três anos que analisou.
O presidente do comitê do prémio, Salim Ahmed Salim, parabenizou aos antigos laureados Joaquim Chissano, de Moçambique (2007), Festus Mogae, do Botswana (2008) e Pedro Pires, de Cabo Verde (2011), que estabeleceram níveis elevados de excelência na liderança africana e que são exemplos para os futuros líderes.
Além disso, Salim frisou que a maior parte dos africanos vive nos países que apresentaram melhorias no índice da boa governação em relação a 2010: "46 dos 52 países melhoraram. E 95% da população vive neles", disse o presidente do comitê do prémio, ressaltando que o continente africano está a evoluir, ainda que existam áreas preocupantes que mereçam a atenção, enfatizou.
Como acontece a seleção
Eleições livres e justas, acesso a computadores e internet, tratamentos para os infectados com o vírus HIV são apenas três dos 94 fatores analisados pela Fundação Mo Ibrahim para avaliar quão boa é a governação de um país.
Esses fatores podem ser distribuídos por quatro áreas: lei e segurança, direitos humanos, oportunidades económicas e desenvolvimento humano, que inclui educação e saúde. Neste último setor, todos os países da lista melhoraram em relação ao ano 2000. Um bom sinal na opinião de Mary Robinson, antiga presidente irlandesa e integrante do comitê do prémio Mo Ibrahim.
Ela acredita que objetivos de desenvolvimento do milénio estão a refletir-se, mas também mostram o fato de esses objetivos não focarem as questões da lei, participação e direitos. Na opinião dela, é preciso focar mais nisso: "É muito bom o fato de a educação e saúde estarem a melhorar, mas os pontos que não estão melhorando são aqueles que trazem coesão social e paz", afirma Robinson.
1º lugar para as Ilhas Maurícias
Outra tendência que tira o sono dos membros da Fundação é a distância entre os primeiros e últimos lugares da tabela, que tem estado a aumentar desde o ano 2000.
A lista do índice de boa governação 2013 é encabeçada pelas ilhas Maurícias, com 82,9 pontos em 100. No fim da tabela está novamente a Somália, tal como no ano passado, com apenas oito pontos.
A Fundação destaca o desempenho da Libéria, Serra Leoa, Ruanda, Burundi e Angola porque são os mais desenvolvidos nos últimos 12 anos, no que diz respeito à boa governação.
A Guiné-Bissau surge na tendência oposta, ao lado de Madagáscar e da Eritréia no grupo dos países que pioraram significativamente.