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ConflitosSomália

Quem protegerá a Somália da violência e do terror?

António Cascais | Mohammed Odowa
3 de janeiro de 2022

Pouco antes do fim da missão de manutenção da paz da União Africana na Somália, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a sua prorrogação por mais três meses. Ainda não está claro como poderá ser substituída.

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Somalia Baidoa | Äthiopische AMISOM-Soldaten
Soldados da AMISOMFoto: AMISOM

A Somália, palco de ataques terroristas, viu o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) prorrogar, até março, a presença da  Missão da União Africana para a Somália (AMISOM), a força de paz do bloco estacionada no país.

Entretanto, a falta de progresso na reconfiguração da missão gera irritação no seio dos países do Ocidente.   

A AMISOM, que agora fica no país por mais três meses, mantém cerca de 20 mil soldados na Somália, destacados para apoiar as frágeis autoridades somalis na luta contra a insurgência liderada por rebeldes do grupo Al-Shabaab.

A presença da missão não agrada vários setores da sociedade civil do país, refere Nasro Ahmed.

A jovem está envolvida em várias iniciativas de paz na capital somali e diz que as pessoas perderam a fé de que a missão seja capaz de restaurar a paz e a segurança na Somália.

"Os soldados da AMISOM têm patrulhado Mogadíscio desde 2007. Os seus sucessos, contudo, são muito escassos. Os soldados estrangeiros estão aqui há 14 anos. Mas nós, somalis, não acreditamos que estas tropas estão empenhadas em restaurar a paz e a segurança, mas sim ficaram por causa de salários que recebem dos doadores", critica.

Somalia | Sprengstoffanschlag in Mogadischu
Capital somali tem sido alvo de ataquesFoto: Farah Abdi Warsameh/AP Photo/picture alliance

Influenciar as eleições

Há muito que decorrem os debates sobre uma reconfiguração desta operação da UA, autorizada pelo Conselho de Segurança e financiada designadamente pelas Nações Unidas e pela União Europeia.

De acordo com o "International Crisis Group", uma organização não governamental que fornece análises e propostas de soluções para conflitos internacionais, a UE transferiu quase 2,3 mil milhões de euros para a União Africana desde 2007 para manter a missão da AMISOM. 

Said Ali, comissário-adjunto da Polícia de Mogadíscio, diz que os apoios servem para reforçar a vigilância ao processo eleitoral em curso no país:

"Recebemos equipamento técnico da AMISOM e dos escritórios da ONU em Mogadíscio. Isto ajuda-nos a observar eleições e ainda esperamos obter mais equipamento e assistência, assim como assistência física destes gabinetes", relata.

À DW, o analista político Matt Bryden afirma que a polícia tem tido um comportamento parcial no processo eleitoral: "A Força Policial Federal da Somália não é neutra e não se pode contar com ela para proteger o processo eleitoral".

"Há um vídeo muito recente a circular que de forma flagrante mostra a manipulação eleitoral em Mogadíscio envolvendo agentes da polícia. Apenas uma combinação de forças, incluindo a Polícia Federal dos Estados-membro e destacamentos de segurança da ONU ou da AMISOM, poderia ser considerada suficientemente neutra para desempenhar este papel", avalia.

Somalia Premierminister Mohamed Hussein Roble
Mohamed Hussein RobleFoto: Somalian Presidency/AA/picture alliance

Instabilidade política

No entanto, o Governo apoiado pelo Ocidente não se tem tornado aparentemente mais estável e capaz de agir ao longo dos anos. Pelo contrário: o Presidente Mohamed Abdullahi, conhecido como "Farmajo", e o Primeiro-ministro Mohamed Hussein Roble estão envolvidos em pesadas batalhas políticas há meses, que se intensificaram com violência entre os dois campos. Os observadores veem o perigo de que as milícias Al-Shaabab, como beneficiárias do caos, possam obter mais ganhos territoriais.  

O pano de fundo do conflito é a eleição presidencial, que tem sido adiada há meses. "Farmajo" é Presidente da Somália desde 2017. O seu mandato já terminou no dia 8 de fevereiro de 2021. O chefe de Governo, Hussein Roble, acusa o Chefe de Estado de sabotar o processo eleitoral e de violar a constituição. O Presidente anunciou a suspensão de Roble porque alegadamente estava envolvido em "corrupção", de acordo com uma declaração do gabinete presidencial.

A secção de África do Departamento de Estado norte-americano disse na passada segunda-feira (27.12) que Washington está "preparada para intervir contra aqueles que obstruírem o caminho para a paz na Somália".  Os aliados da Somália - nomeadamente os Estados Unidos da América, a União Europeia e a ONU - também expressaram "profunda preocupação" com a situação no terreno. 

A Somália encontra-se mergulhada em conflitos e no caos desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de senhores da guerra e milícias islâmicas como a Al-Shabaab.

Somália: A famosa praia do Lido em Mogadíscio

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