Civis querem expulsar FDLR do Congo Democrático
25 de setembro de 2012
Shabunda é uma região no meio da selva do leste do Congo, onde não passa sequer uma estrada. É aqui que se escondem, desde 1996, os rebeldes hutu ruandeses das FDLR. Em tempos tinham o seu quartel-general perto da pequena aldeia de Nduma. Mas agora os rebeldes estão em fuga da população.
Porque em muitas aldeias os congoleses decidiram começar a defender-se contra os ruandeses, com as armas de que dispõem: machetes e lanças. Foi em Nduma que criaram a milícia civil que hoje opera em duas províncias, diz o padre Maurice Sambamba: "Somos a Raia Mutomboki, o povo furioso que se vinga, porque quando alguém te assalta e te rouba tudo, enches-te de fúria", declarou à reportagem DW África.
Porém, o padre Sambamba explica que esta fúria tem uma história: "Nós demos guarida aos rebeldes das FDLR que fugiram do Ruanda depois do genocídio. Foram recebidos como irmãos, apesar dos crimes horrendos que cometeram contra os seus irmãos tutsis. Demos-lhes terras para erguerem a sua própria aldeia. Mas depois eles começaram a atacar-nos", relata.
No genocídio do Ruanda em 1994, membros da maioria étnica hutu chacinaram cerca de 800 mil pessoas da minoria tutsi em cerca de cem dias. Em seguida muitos assassinos fugiram para a selva da vizinha República Democrática do Congo e formaram as FDLR. Este é considerado o movimento mais brutal no leste da RDC, porque explora sistematicamente a população local.
Por exemplo, em Nduma: "Pouco após a retirada dos soldados, em 2011, atacaram Nduma uma noite pelas 23 horas. Pilharam as casas. Todos os habitantes fugiram. Escondemo-nos na floresta. Só nos atrevemos a regressar dias mais tarde", lembra Sambamba.
"Na semana seguinte, voltaram a atacar", diz o padre. "Exigiram que cada lar passasse a pagar um tributo. Levaram cabras, porcos e galinhas. Em julho, voltaram a pôr fogo às nossas casas. Depois desses problemas todos decidimos fundar a milícia Raia Mutomboki em nossa defesa", explica.
Defendendo os congoleses das FDLR
Reunidos em torno do padre, os habitantes da aldeia assentam com a cabeça. Salta à vista que só se encontra entre eles uma mão cheia de homens jovens. A grande parte dos mais jovens, que formam o núcleo duro da milícia, vive na floresta. Os seus líderes dizem têm o cognome "os juristas". Trata-se de dois homens que estudaram Direito na capital da província Bukavu em Kivu Sul. Mas o dinheiro não chegou para os exames. Os jovens regressaram à sua aldeia natal de Nduma para lutar à sua maneira pela justiça.
Na manhã seguinte à chegada da DW África à região, um grupo de jovens homens emerge da floresta e coloca-se em posição, como soldados que protegem o seu comandante.
Chega um homem com um saco às costas que coloca no solo com muito cuidado. Ao abri-lo escapa-se do saco um forte fedor. O homem tira crânios do saco. O vice-comandante Kikunyi curva-se diante dos restos mortais: "Quero mostrar estes crânios a todo o mundo", diz. "Pertencem aos nossos parentes, amigos e vizinhos massacrados pelas FDLR. Guardamo-los para não nos esquecermos de nos vingarmos. Nós gritámos muito por socorro mas ninguém nos ouviu. O governo disse-nos, defendam-se vocês próprios. É o que estamos a fazer, para nossa própria segurança", explica Kikunyi.
Quando o comandante Kikunyi se levanta e parte rumo ao quartel general na selva, as mulheres da aldeia entoam um cântico de louvor aos líderes da Raia. "Deus proteja Eyaduma e Kikuny, porque eles protegem-nos de violações e pilhagens", cantam.
Autoras: Simone Schlindwein/Cristina Krippahl
Edição: Renate Krieger/António Rocha