RDC: Líderes da oposição retiram apoio a candidato único
13 de novembro de 2018Os presidentes da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), Félix Tshisekedi, e da União para a Nação Congolesa (UNC), Vital Kamerhe, cederam à pressão dos seus apoiantes em Kinshasa e abandonaram o acordo assinado em Genebra com outras cinco figuras proeminentes da oposição para a designação de um candidato de consenso às eleições presidenciais.
Martin Fayulu, líder de um pequeno partido com fraca representação no Parlamento, foi o nome apontado no domingo (11.11) para enfrentar o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary, o candidato do Presidente Joseph Kabila, em nome da oposição, a 23 de dezembro. Agora, tudo aponta para o recuo no seio dos partidos opositores.
"Entendi que o ato em Genebra foi mal interpretado e rejeitado pela nossa base. Portanto, retiro a minha assinatura deste acordo assinado ontem, domingo, em nome da UDPS", disse Felix Tshisekedi em entrevista à rádio Top Congo.
Ao início do dia de segunda-feira, ativistas reunidos na sede da UDPS em Kinshasa tinham dado 48 horas a Tshisekedi para retirar a sua assinatura do acordo firmado em Genebra e manter a sua própria candidatura à Presidência. Centenas de pessoas manifestaram-se junto à sede do partido, onde foram queimados pneus.
"Nós não aceitamos esta decisão, nós consideramo-la um embuste, uma conspiração contra a República. São um conglomerado de aventureiros que navegam contra o povo e que não querem o bem do povo congolês", disse o secretário-geral da UDPS, Jean-Marc Kabund. "Não entendemos porque é que ele se vai desmobilizar por um candidato impopular. Para nós, é um insulto. O presidente Tshisekedi deve voltar à razão", afirmou.
"Caso contrário – é a base que decide – será destituído", ameaçou Simon Kashama, militante da UDPS. "Não lutámos durante 36 anos para encontrar um candidato comum, mas sim para encontrar uma alternância, conquistar o poder", acrescentou.
Sem bases não há liderança
Alguns minutos depois do recuo de Felix Tshisekedi, o ex-presidente da Assembleia Nacional, Vital Kamerhe, também voltou atrás, em declarações à Top Congo: "Anuncio que retiro a minha candidatura respeitando a vontade dos meus apoiantes. Vou auto-excluir-me do partido, qual é o objectivo de ser um líder sem uma base?".
Os militantes UNC lamentam não terem sido consultados antes da decisão de apoiar Martin Fayulu. O vice-secretário da UNC e responsável pela divulgação política em Kivu do Sul, Amato Bayubasire, crítica a nomeação às escondidas de um candidato único da oposição: "Não fomos capazes de contactá-los [em Genebra] para lhes dizermos aquilo que a base do partido queria, porque eles não fazem política por eles mesmos. Eles não fazem política para as pessoas que os convidaram a entrar nas conversações. Eles fazem política para o povo congolês".
Segundo Amato Bayubasire, os critérios acordados pelos líderes do partido a 26 de outubro não foram respeitados em Genebra. Em Bukavu, eclodiram vários confrontos entre ativistas da UNC e militantes do partido de Martin Fayulu, o Movimento pela Cidadania e Desenvolvimento (ECIDE).
Antes do acordo de Genebra, Tshisekedi e Kamerhe tinham sido nomeados candidatos às presidenciais pelas suas respectivas formações políticas. Felix Tshisekedi, filho do fundador da UDPS Etienne Tshisekedi, era mesmo considerado um favorito na corrida, à frente de Kamerhe.
Tanto a UDPS como a UNC condenam a falta de apoio de base do candidato único nomeado em Genebra fora da sua província, Bandudu. "O candidato deveria ter uma força organizadora no país para liderar uma campanha presidencial. O candidato Fayulu não tem esta organização em todo o país, o seu partido tem uma esfera limitada de influência", escreveu a UNC em comunicado, esta segunda-feira.
As eleições gerais estão previstas para 23 de dezembro. Se realmente acontecerem, chegam com dois anos de atraso devido a supostas deficiências no recenseamento eleitoral. A oposição acusa Joseph Kabila de encetar manobras políticas para adiar a sua saída do poder.
Kabila comanda os destinos do país desde a morte do pai em 2001. Só em agosto de 2018, aceitou sair do poder já que a Constituição não lhe permite concorrer a um terceiro mandato. No seu lugar estará o ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary.