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Receio de convulsões sociais na África do Sul

António Rocha27 de junho de 2013

A saúde de Nelson Mandela melhorou um pouco esta quinta-feira (27.06), porém o ex-presidente da África do Sul permanece num estado crítico no vigésimo dia da sua hospitalização.

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Bildnummer: 58977677 Datum: 26.12.2012 Copyright: imago/CHROMORANGE Africa, South Africa, Durban city Aerial view Africa, South Africa, Durban city Aerial view PUBLICATIONxINxGERxSUIxONLY kbdig 2012 quer Afrika afrikanisch afrikanischer afrikanisches architektur architektonisch Durban KwaZulu-Natal zululand KwaZuluNatal kueste küsten kuesten küstenlinie kuestenlinie wassernah wassernähe wassernaehe luftbild reisen erhoben erhöht erhoeht luftbilder luftbildaufnahme draussen ausserhalb außen außerhalb pool schwimmbecken pools Stadtansicht städtisch Stadtansichten staedte stadt städte strand straende ufer Südafrika Suedafrika 58977677 Date 26 12 2012 Copyright Imago Africa South Africa Durban City Aerial View Africa South Africa Durban City Aerial View Kbdig 2012 horizontal Africa African African African Architecture architecturally Durban KwaZulu Natal KwaZuluNatal Coast Coasts Coasts Coastline Kuestenlinie Water nearby Wassernaehe Luftbild Travel collected increased raised Aerial photos Aerial photograph outside Outside exterior Outside Pool Pool Pools City view urban City views Cities City Cities Beach Beaches Shore South Africa South Africa imago stock&people
Cidade de Durban DurbanFoto: imago stock&people

Apesar desta evolução, a família evocou publicamente, pela primeira vez, a perspectiva do falecimento de Madiba a qualquer momento. Na quarta feira à noite, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou a anulação da sua viagem a Moçambique, para a cimeira da SADC, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, devido à deterioração do estado de saúde de Mandela.

Entretanto, analistas começam a alertar para o risco de violência e um aumento da visibilidade de tensões sociais na África do Sul após a morte do líder histório do ANC, Congresso Nacional Africano. A DW África, entrevistou André Thomashausen, analista político e Professor de Direito Internacional na UNISA-Universidade da África do Sul, em Joanesburgo.

DW África - Existe uma possibilidade real de se verificarem erupções de violência popular após a morte de Nelson Mandela?

André Thomashausen (AT) – Sempre quando acontece na história de um país uma ruptura, algo com um significado e de dimensão psicológica fundamental, existe essa possibilidade de que grupos minoritários ou grupos extremistas possam tentar aproveitar esse momento, em que talvez a história do povo parece estar parada, para provocar perturbações. No caso concreto da África do Sul, existe um certaoalerta, nomeadamente foram mobilizadas forças na reserva para qualquer eventualidade e é possível, como existe uma vaga global de contestações populares, na Turquia, no Egito, no Brasil, é possível que também aqui este possa ser o momento em que descontentamentos populares venham a se fazer sentir.

DW África - Isso quer dizer que as tensões sociais e políticas na África do Sul serão mais visíveis após a morte de Mandela?

AT - De certeza, porque Mandela é o símbolo da unidade nacional, ele é o símbolo da identidade moderna e nova deste país no sentido inteiramente positivo, ou seja, um país não violento, virado para a justiça social e para o progresso. E é por isso que o mundo tem visto sempre a África do Sul com um certo carinho e tem a acolhido muito bem. Só que nos últimos dez anos, essa visão está cada vez mais difícil de se atingir. As diferenças sociais são enormes, o fosso entre os mais pobres e os mais ricos é grande e portanto essa clivagem muita aguda nesta sociedade terá que ser remediada.

DW África - Mas isso não significa que a herança de Mandela será posta em causa?

AT- Mandela vai deixar este país já numa fase de crise, embora não seja uma crise pela qual possa ser responsabilizado. A África do Sul, tal como muitos outros países semi-industrializados e os industrializados que estão em crise atualmente, não foge à essa regra, só que a África do Sul é mais vulnerável porque não se integra por exemplo numa união forte como a União Europeia, que pode sempre aguentar, assistir e equilibrar as situações. A África do Sul encontra-se só e muito vulnerável.

DW África - Será que as comunidades de estrangeiros residentes na África do Sul correm algum perigo no que concerne ao futuro ?

AT- Neste momento, as emoções e críticas são dirigidas contra os imigrantes ou os refugiados económicos dos países vizinhos. A África do Sul acolhe atualmente cerca de três milhões de cidadãos do Zimbabwe devido à crise já quase permanente naquele país, mas também temos números muito expressivos de outras partes de África em crise, inclusive de países já muito afastados como a Somália. Esses refugiados têm sentido na pele actos de xenofobia, com ataques e espancamentos, lojas queimadas, etc. O sentimento popular é de responsabilizar os refugiados, os estrangeiros africanos pelas carências e dificuldades que uma grande parte da população está a enfrentar.

DW África - Mas os sul-africanos brancos devem temer o futuro com a morte de Nelson Mandela?

AT- Por enquanto não há nenhuma indicação que isso venha a acontecer. A percepção popular é de que a situação se mantem pacífica com a economia a funcionar, os postos de trabalho ainda existem e a funcionar precisamente por causa dos brancos. Não existe animosidade contra os brancos, nem mesmo contra os antigos opressores, os brancos de origem holandesa os “boers”, mas sim existem ressentimentos e agressividade contra os emigrantes de outros países africanos. Isto porque a população aqui acha que essas pessoas estão a tirar-lhe a possibilidade de trabalhar, a oferecer a sua mão de obra ao desbarato, e principalmente a afetar as condições dos serviços sociais, as disponibilidades nos hospitais nas escolas e nos serviços de transportes, para além de contribuírem para aumentar a criminalidade no país. Neste ponto sim, haverá um perigo, contudo não penso que as várias comunidades de origem europeia que vivem neste país sejam atingidas.

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