Em Maxixe e Inhambane paga-se fatura, mas não há água
13 de dezembro de 2016Os residentes das cidades da Maxixe e Inhambane, no sul de Moçambique, estão a pagar faturas sem consumir a água potável que deveria ser fornecida pela empresa pública Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG). A população recorre às cisternas onde é depositada a água da chuva. Há quem compre água em residências privadas.
Os residentes pedem às entidades competentes que as atuais ligações sejam cortadas para se evitar pagamentos desnecessários, ou que se procure outra solução para o fornecimento. Mesmo assim, a água não sai das torneiras em casas de Maxixe e Inhambane e, ao final de cada mês, chegam as facturas emitidas pela FIPAG.
"Pagamos a taxa única de 141 meticais (cerca de 1,5 euros), mas não temos água. Sobrevivemos devido às cisternas que nós temos. Se não fossem elas, íamos sofrer mesmo"; diz Laura Francisco, moradora na cidade de Maxixe, onde a falta de água está a afetar muitas residências, tal como em Inhambane.
Nos últimos dias, a DW África confirmou a situação em várias casas nas duas cidades. Os residentes ouvidos pela DW dizem que há milhares de pessoas nesta situação. Muitas vêem-se forçadas a recorrer à água das chuvas recolhidas em cisternas.
Laura Francisco afirma que paga faturas sem consumir a água e pede o corte da ligação para evitar pagamentos desnecessários. "O dia em que há água é o dia que trazem a fatura. Diáriamente necessitamos de água para os nossos afazeres , mas como é que podemos viver sem ela? E ainda tem aquelas taxas. Por isso muitas pessoas querem ver se dá para cortar a ligação para o abastecimento da água, porque o líquido não chega às torneiras e portanto não serve para nada essa ligação. Isso é um grande problema que estamos a viver no quotidiano”, diz Laura Francisco.
Água para atividades domésticas
A DW África perguntou aos residentes das duas cidades como conseguem ter água para confecionar alimentos e realizar outras atividades domésticas. Esménio António, na cidade de Inhambane, disse que compra água em outras residências por 10 meticais (cerca de 0,13 centavos de euro), por cada reservatório de 20 litros.
Esménio António pede soluções à entidade gestora nesta região.“Mas quando eles vêm aqui deixar a fatura dizemos: 'entregam a fatura mas água é escassa e praticamente não sai nas torneiras'. Pagamos porque temos torneiras, mas compramos água nas outras casas. Pelo menos devia-se resolver esta situação porque pagar fatura e não termos água deixa-nos numa situação difícil e não temos como reclamar”.
Faturas elevadas
O mais grave, insistem os residentes afetados, é não ter água e continuar a ter de pagar faturas elevadas. Marta Joaquim, que vive na Cidade de Maxixe, vê-se forçada a pagar água sem no entanto não consumir o precioso líquido.
"Ás vezes falta água por duas, três semanas e depois cobram-nos algo como até 750 meticais (menos de 10 euros). Estamos a tirar [a água ] aqui [na cisterna ou reservatórios de aguas das chuvas]. Levamos uma mangueira para tentar bombar no dia que sai [ água ] para meter no tanque, e depois eles vêm cobrar muito dinheiro”, diz Marta Joaquim.
Nos últimos dias, a DW África tentou, sem sucesso, ouvir os gestores do FIPAG nas cidades de Maxixe e Inhambane. Apesar de terem garantido que dariam uma resposta, até ao momento, os responsáveis não fizeram quaisquer declarações.