Responsáveis do futebol africano lamentam partida de Blatter
3 de junho de 2015A demissão do presidente da FIFA, Joseph Blatter, quatro dias depois do início do seu quinto mandato, apanhou vários responsáveis do futebol africano de surpresa.
Nos últimos anos, Blatter tornou-se bastante popular no continente, que conta com 54 federações de futebol. A generosidade da FIFA no financiamento de projetos de infra-estruturas beneficiou seguramente a imagem do suíço. Além disso, sem a ajuda de Blatter, talvez o Mundial 2010 nunca tivesse sido realizado na África do Sul, refere Joseph Owona, da Federação Camaronesa de Futebol (FECAFOOT).
"O grupo africano apoiou a recandidatura de Joseph Blatter porque foi um homem que fez muito para que o futebol africano, mas também o asiático, se desenvolvessem", afirma Owona. "Quer queiramos quer não, o envolvimento de Blatter no desenvolvimento do nosso futebol permitiu a realização do Mundial em África."
Reações a demissão
Joseph Blatter anunciou a demissão esta terça-feira (02.06), seis dias depois de vários responsáveis da FIFA serem detidos num hotel em Zurique, por suspeitas de corrupção. Muitas vozes no continente lamentam a partida de um homem que muito trabalhou pelo futebol africano, em comparação com os seus antecessores, que pouco ou nada fizeram.
Mas Roger Milla compreende a decisão de Blatter. "Se ele tivesse escutado o que muitos lhe diziam, hoje não teríamos chegado a este ponto. É lamentável que ele tenha apresentado a demissão nestas condições", diz .
A lenda do futebol camaronês espera, agora, que o sucessor de Joseph Blatter mantenha o mesmo interesse pelo futebol africano e consiga reorganizar as diferentes federações do continente, nomeadamente a FECAFOOT: "Compete agora aos membros da organização encontrarem uma pessoa mais competente e que tenha a capacidade de ouvir todo o mundo, nomeadamente as federações africanas."
"Puxa-se o fio, vem o novelo"
O presidente da comissão de auditoria da FIFA, Domenico Scala, disse esta terça-feira que, na sequência do escândalo de corrupção que atinge o mundo do organismo, ainda há muito trabalho a fazer "para reconquistar a confiança do público".
Em entrevista à DW África, Nando Jordão, vogal do conselho técnico desportivo da Federação Angolana de Futebol, não se mostra muito confiante. Onde abunda o dinheiro e o poder proliferam, geralmente, casos de corrupção, afirma o responsável.
"Este tipo de corrupção não deve ser estranho para ninguém que anda no futebol. Nem para o [presidente da UEFA, Michel] Platini, que parece estar muito espantado. Nessas instituições, assim que se apanha o fio vem logo o novelo todo", diz Jordão. "Alguém terá de limpar a instituição e terá de haver, portanto, uma unanimidade total, provavelmente como fazem os revolucionários, tem de sair tudo e entrar gente nova. [Mas] daqui a 20 ou 30 anos teremos outra FIFA corrompida, porque passa pela FIFA dinheiro a mais."