"São Tomé pode ser porto seguro para barcos piratas"
8 de abril de 2015O navio "Thunder" afundou na noite de segunda-feira (06.04) a cerca de 9.500 milhas da costa de São Tomé e Príncipe. Vários membros da tripulação, formada maioritariamente por indonésios, foram resgatados por ativistas da Sea Shepherd, uma organização internacional sem fins lucrativos ligada à protecção do ambiente marinho. A organização não governamental (ONG) seguia há mais de três meses a embarcação suspeita de pescar ilegalmente na Antártida.
De acordo com informações da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) citadas pela agência de notícias Lusa, o navio "já mudou várias vezes da cor, de bandeira e de nacionalidade" e pratica "atividades ilegais que podem incluir tráfico de drogas".
Segundo o comandante da Capitania dos Portos de São Tomé, Rui Costa, o objetivo do "Thunder" era "vir a São Tomé fazer o transbordo da carga, a mudança de tripulação e posteriormente permanecer em São Tomé para preparar um novo registo e mudar de atividade de pesca, para assim obter uma nova licença".
Naufrágio planeado?
Os 40 tripulantes do navio encontram-se agora à guarda das autoridades são-tomenses, que prosseguem as investigações. O comandante da guarda costeira, Idalécio João, congratulou-se com a operação de resgate desencadeada pelos fuzileiros navais são-tomenses e negou que o país tivesse informação de que o navio estava a ser procurado pela Interpol. "Não recebi nenhuma carta da Interpol a dizer que o navio estava a ser seguido", sublinhou.
Entrevistado pela DW África, o capitão Sid Chakravarty do "Sam Simon", um dos navios da ONG Sea Sheperd, diz que as provas recolhidas evidenciam que houve uma intenção deliberada da tripulação em fazer desaparecer o barco.
"O navio afundou seis horas depois, o que indica que foi planeado. Se o meu barco fosse atingido e estivesse a entrar água, eu não evacuaria a minha tripulação enquanto a situação estivesse sob controlo", explicou.
Sid Chakravarty diz ter ficado surpreendido pelo facto de o navio ter sido agenciado pela Equador, em São Tomé. Uma prova que, segundo o capitão, alimenta a tese segundo a qual o proprietário e operador do navio, até ao momento desconhecidos, planearam e anteciparam esta operação de naufrágio.
"Contactámos o senhor Wilson Morais, [o funcionário da agência são-tomense Equador, que agenciou o navio que naufragou] que me disse que tinha sido contactado por uma agência espanhola para retirar a tripulação. Não lhe foi dito que o barco era procurado pela Interpol."
Sid Chakravarty acrescenta que o funcionário da agência são-tomense pensava estar perante "uma situação comum, em que a tripulação passa pelos controlos fronteiriços, é enviada para casa num avião e substituída por uma nova equipa."
"Porto seguro para piratas"
Para o ambientalista Bastien Loloum, da ONG MARAPA - Mar, Ambiente e Pesca Artesanal, o caso tem outras leituras. "O Thunder, que tinha como objectivo vir para São Tomé para poder descarregar material capturado de forma fraudulenta, carga ilegal, estava também a usar ferramentas nacionais e locais para poder continuar a sua atividade com cobertura administrativa", defende.
Bastien Loloum encara o episódio com preocupação. "Porque significa que as autoridades locais não têm tanto domínio daquilo que se passa no nosso porto, com barcos que vão e vêm - e que se calhar estão envolvidos em atos criminosos - e não temos capacidade de fiscalização dessas atividades."
Na opinião do ambientalista, "isso poderá significar que São Tomé pode ser um porto seguro para barcos piratas".
Esta foi a primeira que um navio de pesca naufragou em águas territoriais são-tomenses com tão elevado número de marinheiros.