Seca e fome em África
6 de janeiro de 2017Burhan Semakula conhece bem a fauna e a flora do Uganda. É professor no distrito de Luwero no sul do país. E não tem dúvidas. A situação é mesmo problemática: "As plantas secaram. Isto significa que é muito difícil conseguir comida”. Semakula explica que a sobrevivência do gado também está em causa: "Tivemos de mudar os animais de lugar para salvá-los da seca. Está tanto calor que parte da população depende da ajuda do Estado e de várias organizações não governamentais".
O ministro ugandês das Finanças Matia Kasaija, já avisou que a estiagem pode ter consequências nefastas na economia e obrigar a uma redução de gastos e maior investimento nos apoios alimentares para evitar a morte de milhares de cidadãos: "Este fenómeno criou uma situação de crise humanitária: cerca de 12 milhões de pessoas estão a precisar de ajuda alimentar e é esperado que a atual seca agrave ainda mais a já difícil situação na região".
O pior está por vir
Em 2015 e 2016, todos os países foram atingidos pelo fenómeno climático El Niño. Schukri Ahmed, da agência das Nações Unidas para a alimentação FAO, diz que a situação "resultou numa crise humanitária”. E uma vez que não se avista o fim da seca, "é muito provável que a crise se agudize”, diz Ahmed.
Nos próximos meses, a seca deverá atingir o pico máximo. No Quénia, por exemplo, a conjuntura poderá piorar, pois há mais de um ano que não chove em algumas áreas desta nação da África Oriental. As regiões mais afetadas são as do nordeste, explica o especialista em Desenvolvimento Titus Mung'ou: "Estamos a tentar encontrar maneiras para dar melhor formação às pessoas, especialmente aos agricultores para que se adaptem às alterações climáticas”.
Educação sofre com a seca
Mung'ou salienta que os agricultores devem começar a armazenar o máximo de alimentos possível durante as estações chuvosas e iniciar mais cedo a fase de plantação e fertilização: "Os especialistas em climatologia deviam também trabalhar lado a lado com os agricultores. A mensagem é: protege o teu bosque e vais conseguir sobreviver enquanto agricultor”.
Na Etiópia, o impacto da seca alastrou-se à educação. Duas escolas tiveram de fechar nos arredores de Negash Ullala por falta de alunos. As populações nómadas mudaram de região em busca de capim para os animais. Estima-se que mais de 52 mil alunos e 186 escolas tenham sido afetados pelas migrações provocadas pela seca severa.