Angola busca atender população castigada pela seca
29 de setembro de 2016O Governo angolano está agindo de forma integrada com os governos provinciais para garantir alimentos e água para a população das províncias do sul do país, que sofre com a seca e a escassez de comida. Nesta semana (27.09.), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) alertou as autoridades para o fato de que aquela região tem comida para menos de seis semanas.
Segundo relatório do PNUD, cerca de 400 mil pessoas precisam de alimentos e assistência nas comunidades rurais das províncias do Cunene e da Huíla, no sul de Angola. Esta é a zona mais afetada pela seca prolongada, relacionada ao fenómeno El Niño, que também atinge a província do Namibe. Atualmente, 1,2 milhões pessoas sofrem com esta realidade.
Para atender a população, o Governo angolano criou uma comissão com seis ministérios e os governos daquelas províncias. Segundo o porta-voz do Ministério de Assistência e Reinserção Social, Celso Malavoloneke, nas próximas semanas, as comunidades do sul deverão receber alimentos que foram importados pelo Estado.
Alimentos e água
"A nível central, foi feito um grande esforço no sentido de importação de alimentos, a nível de todo país. Nas últimas duas, três semanas, começaram a chegar ao país quantidades de alimentos que foram importadas precisamente porque estava a existir já uma escassez a nível nacional da parte de alimentos. Parte desses alimentos serão encaminhadas a todas as províncias, incluindo estas áreas que estamos a referir”, explica.
Para além de alimentos, outra preocupação do Governo é o fornecimento de água para a população e o gado.
"O Ministério de Energia e Água está a avançar com um programa de água para todos em duas componentes, sobretudo na província do Cunene e na parte sul da província da Huíla e também na parte oeste da província do Namibe. Um é abastecimento de água potável para o consumo humano, através de furos de grande profundidade e com bombas manuais; e a outra é a reposição da cadeia de reservatórios tradicionais de águas pluviais para o gado. Este programa está em curso”, garante o porta-voz ministerial.
Crise financeira agrava ainda mais a situação
Vivendo na região há anos, o padre Pio Jacinto Wacussanga vê com preocupação os efeitos das alterações climáticas no sul de Angola.
"A vulnerabilidade ligada à fome nunca foi debelada. Desde 2012 que não chove suficiente para as pessoas cultivarem e fazerem reservas. Porque o ciclo da chamada segurança alimentar mínima é contado a partir do momento que a reserva alimentar aguenta as pessoas até a próxima colheita. E então, isto não existe. Este é o grande problema”.
Segundo o sacerdote da Igreja Católica, por causa da seca e da escassez de alimentos, muitos jovens e mulheres das províncias sul do país estão deixando as suas casas em direção a outras províncias e grandes cidades, a fim de encontrar emprego e comida. Contudo, por conta da crise financeira que assola Angola, ele diz que nem sempre esta alternativa é bem sucedida.
"Para além de jovens que partem do interior para ir às cidades, especialmente a Luanda, a procurar alimentos, já estamos a acompanhar grupos de senhoras que trazem material da olaria para venderem nos centros das vilas. Isto se agrava ainda mais com a crise, porque antes as pessoas confiavam nas cidades e nos armazéns onde havia uma alimentação mais ou menos acessível para quem tivesse algum dinheiro. Há muitos armazéns fechados nas cidades. Então a situação, quer na cidade, quer no campo, está a caminhar para contornos que poderão ser muito graves nos próximos meses”, alerta Wacussanga.
Do ponto de vista do Governo, Celso Malavoloneke afirma que, mesmo com as medidas emergenciais que são colocadas em prática, a crise financeira dificulta ainda mais o processo de tomada de decisões.
"Neste momento, o nosso Governo enfrenta alguns problemas de índole financeira devido a baixa do preço do barril do petróleo. Este programa está a ser implementado, mas não com a velocidade e a abrangência que tinha sido pensada antes, precisamente por causa desta limitação que o Governo de Angola vem experienciando, não só nesta mas em várias outras áreas também”, acrescenta o porta-voz, referindo-se ao programa de fornecimento de água às populações do sul.
Estratégia mais eficaz é necessária
De acordo com Pio Wacussanga, é preciso um plano de ação mais eficaz para oferecer melhores condições de vida à população.
"Para mim o que vejo, o futuro é incerto e, de certa maneira, grave. Grave não só por causa dos cenários que poderão eventualmente piorar, mas pela ausência de estratégias muito concretas, quer da parte do Governo, quer da parte da sociedade, e de outros atores sociais para podermos encarar o fenómeno”.
O porta-voz do Ministério de Assistência e Reinserção Social de Angola diz que, para além das ações emergenciais, o Governo pretende colocar em prática ações que tenham efeitos mais permanentes.
"Vamos estudar a situação de emergência, especificamente, área por área, para definir ações pontuais. A nossa prioridade deverá ser concentrar em mecanismos comunitários, que protejam as comunidades do efeitos da seca. Dar apenas alimentos, nós estamos a fazer desde 1989, mas não está a resolver o problema. Temos que ter programas mais sustentáveis, que realmente aumentem a capacidade das comunidades de se protegerem deste desequilíbrio ecológico (as alterações climáticas). É aí que se enquadra, por exemplo, a reabilitação dos reservatórios de águas pluviais”, pontua Malavoloneke.
Para combater a malnutrição das pessoas que vivem nas províncias do sul e para a reabilitação dos reservatórios de água, o Governo de Angola tem o apoio das agências da Organização das Nações Unidas.