Seca no sul de Angola tem consequências devastadoras
17 de dezembro de 2015As províncias do Cunene e Huíla, que contam com mais de três milhões de habitantes, são as mais afectadas e há mesmo várias pessoas a morrer à fome, embora ainda não existam números concretos de fontes oficiais.
As campanhas de solidariedade, realizadas maioritariamente pela Igreja Católica, não são suficientes para ajudar toda a população que necessita. Segundo Francisco Fingo, diretor executivo da Associação Construindo Comunidades (ACC), com uma maior atuação na província de Huíla, a falta de chuvas, para além de estar a provocar a morte do gado, torna também impossível o cultivo de alimentos. Isto, numa população que subsiste principalmente da pecuária e da agricultura. "A seca está a provocar a estiagem, a seca, a fome, a nudez, porque a população não tem como sobreviver. Essa falta de chuvas está a fazer com que as populações estejam em pobreza extrema", acrescenta.
A seca que se está a fazer sentir não é uma situação pontual, pelo que tem ocorrido nos anos anteriores: “Já é uma questão cíclica. Tem havido uma grande caristia nas populações mais deserdadas do sul de Angola e mais desprovidas. O problema é natural, esta questão da seca. Mas em contrapartida existem outros contornos, outros problemas”, afirma o padre Raul Tati, da diocese de Cabinda, que tem acompanhado a situação, principalmente na província do Cunene.
Apelo à solidariedade angolana
O diretor da ACC sublinha que há um boicote da informação interna e apela à solidariedade da população. "A nível dos órgãos de comunicação internos, a notícia não se faz passar. A notícia é boicotada e quando a notícia é boicotada as pessoas pensam que não há problemas", afirma. Francisco Fingo acredita que se houvesse mais comunicação, com certeza haveria mais inter-ajuda entre as populações.
O padre Tati diz ainda que neste momento "qualquer gesto pode salvar uma boca de morrer de fome" porque apesar da boa vontade dos missionários que estão no terreno e por muito que queiram ajudar, nunca é suficiente, sublinhando a necessidade de políticas de prevenção, pois "este é um problema, primordialmente da responsabilidade do Governo de Angola que deve ter políticas de desenvolvimento e politicas sérias para acudir a esta gente e para prevenir fenómenos desta Natureza. Não se pode evitar a seca. Mas pode-se evitar as consequências desastrosas da seca".
Por outro lado, António Didalelwa, governador da província do Cunene classificou, esta quarta-feira (16.12), a situação como sendo "difícil" mas não desesperadora, afirmando que o Governo está a tentar minimizar os efeitos da seca que se estima atingir 500 mil pessoas. Paulo Calunga, da Proteção Civil e Bombeiros do Cunene, disse ainda que vão ser distribuídos 300 mil litros de água potável onde é "necessário e possível".
Solução passa pelo reaproveitamento das águas
Apesar de já terem sido identificados os principais problemas e apresentadas algumas soluções, a falta de acção governamental é apontada como o principal motivo para esta situação devastadora.
"Nós, sociedade civil, temos estado a chamar a atenção ao Governo, promovemos uma conferência em setembro do ano passado sobre Segurança alimentar e foram identificadas todas as técnicas de retenção das águas. Infelizmente, o Governo faz ouvidos de mercador”. esclarece Francisco Fingo.
Acrescenta que "tem de haver uma cesta básica para que as comunidades possam sobreviver" e sublinha que a retenção de águas é extremamente importante porque "a chuva não cai com regularidade", portanto há uma necessidade de se reter as baixas quantidades que se conseguem obter e fazer um aproveitamento racional.