Siderúrgica do Cuchi: Ressurge o medo do impacto ambiental
11 de setembro de 2023Voltaram à tona as preocupações sobre o impacto social e ambiental de um projeto siderúrgico na província angolana do Cuando Cubango.
No final de agosto foi inaugurada a primeira fase da unidade fabril da Companhia Siderúrgica do Cuchi, que já começou a produzir ferro-gusa para exportação. O projeto usa carvão vegetal como fonte de energia, que é produzido na região através da queima de madeira local, e isso preocupa o cidadão Angelino Manuel.
"Vão desflorestar o Cuchi, e aquilo vai-nos provocar muitos danos", receia.
Manuel espera um posicionamento do Governo: "Nós esperamos que o Governo central e local tomem já as devidas precauções para que, no futuro, não venhamos a [sofrer] por conta dos danos, beneficiando uma elite e prejudicando os cidadãos comuns".
Organizações da sociedade civil manifestam há mais de um ano preocupações idênticas. Temem que a produção de ferro-gusa se torne um pesadelo para a população, com a desflorestação de dezenas de milhares de hectares de mata nativa para produzir o carvão vegetal.
Mas a empresa garante que o projeto é sustentável: a mata será replantada com eucaliptos e serão mantidos "corredores e ilhas com vegetação nativa". Além disso, segundo o Governo, a Companhia Siderúrgica do Cuchi é obrigada a apresentar um relatório de desempenho ambiental de três em três meses.
Benefícios?
A companhia chama, entretanto, a atenção para um grande benefício do projeto: a criação de 1.200 postos de trabalho necessários na província. É algo que entusiasma o engenheiro informático Celestino Adriano.
"Muitos jovens conseguiram o seu primeiro emprego ali. O projeto vem ajudar as famílias e diminuir a taxa de desemprego no país, particularmente numa altura em que enfrenta grandes problemas de divisas e sabendo que a maior parte do ferro que é produzido ali será exportado", considera.
A estudante Laurinda Domingos pede que a Companhia Siderúrgica do Cuchi não caia no mesmo erro de outros megaprojetos, no passado.
"Normalmente, abre-se uma fábrica, mas nós próprios não nos beneficiamos com o que se ganha da fábrica. Espero que desta vez seja diferente, que nós sejamos os primeiros beneficiários, inclusive dos recursos que a fábrica vai produzir, apesar da exportação para o exterior de Angola", afirma.
Governo anseia por mais investimentos
Para concluir a primeira fase das obras de construção da Companhia Siderúrgica do Cuchi, que tiveram início em 2015, a empresa gastou 60 milhões de dólares. Para a segunda fase, a companhia prevê investir a partir do segundo semestre do próximo ano 260 milhões de dólares, para a construção de mais três altos-fornos. O objetivo é produzir anualmente 516 mil toneladas de ferro-gusa a partir de 2025.
O governador José Martins espera muitos mais investimentos do género na província.
"Queremos encorajar esta iniciativa empresarial e apelar a todos os empresários do nosso país, e não só, que estejam interessados em investir no Cuando Cubango, que o governo provincial está de mãos abertas para que eles possam fazer os seus investimentos aqui", convida o governante.