Somália ainda sem presidente e sem segurança
20 de agosto de 2012Nesta segunda-feira (20.08) deveria terminar o mandato do governo de transição somali apoiado pelas Nações Unidas. Os representantes dos diversos clãs deveriam apresentar uma Constituição e eleger um parlamento e um Presidente, mas só uma parte do previsto teve lugar.
O Parlmento iniciou os trabalhos, mas sob grande proteção das tropas da União Africana, AMISOM. A primeira sessão teve início no meio da pista de aterragem do aeroporto de Mogadíscio, a capital do país, próximo da base da AMISOM onde estão cerca de 17 mil soldados da organização africana.
Os deputados dizem que têm ainda muito trabalho por fazer antes da eleição do presidente. Por exemplo, eles querem eleger primeiro o comité eleitoral no Parlamento.
A insegurança impede o retorno dos refugiados
Enquanto isso, os exilados somalis preferem permanecer fora do país, onde se sentem mais seguros. Em Easleigh, um bairro popular da capital queniana, Nairobi, vivem sobretudo somalis. E muitos viajam regularmente entre o Quénia e o seu país. Mas quase nenhum somali pensa em regressar definitvamente. Abukar Sheikh Ali é gerente do hotel Bin Ali neste bairro. Ele e a sua família são donos do hotel.
Os cerca de 100 membros da família Bin Ali têm negócios não apenas em Nairobi e Mogadíscio, mas ainda em Djibuti, Dubai, Somalilândia, Sudão do Sul e Uganda. Se ganham muito dinheiro em todo o lado, também perderam muito em Mogadíscio: "16 milhões de dólares norte-americanos para ser exacto", diz Abukar Sheikh Ali. São os prejuizos causados pela destruição e pilhagem do hotel e outro edifício na capital somali.
Segundo Abukar Sheikh Ali a parte mais segura de Mogadíscio é ao pé do aeroporto, onde vivem os governantes. Os outros bairros ainda são muito perigosos, sobretudo no oeste da cidade. O gerente somali diz que ai estão escondidos muitos elementos da milícia fundamentalista islâmica Al-Shabab. Dada as ações constantes da milícia radical, o somali chega a dizer que "parece que têm uma reserva sem limites de bombas e explosivos".
A esperança morreu
O homem de negócios não acredita que algo mude quando for eleito um novo Presidente: "Só haverá segurança mesmo quando as pessoas tiverem trabalho e não estiverem dependentes de ganhar dinheiro trabalhando para as milícias"." Mas antes disso é preciso que muitas empresas invistam na Somália e criem emprego", defende Sheik Aly. Neste momento, apenas cinco ou dez por cento dos somalis têm um rendimento, 95% estão desempregados.
A maioria dos somalis em Nairobi observa os acontecimentos na pátria com um certo cepticismo. É o caso de Emmanuel Kisangani que também não espera muito do fim da era de transição. Kisangani trabalha para o Instituto dos Estudos de Segurança, um centro de pesquisa africano com delegação na capital queniana. Ele lembra que os membros do governo de transição agarram-se ao poder.
Governo precisa-se
O somali visualiza até o cenário: "O resultado mais provável é que no novo executivo estejam as mesmas pessoas que no governo de transição. Apesar destes políticos terem sido acusados de corrupção desavergonhada".
Kinsangani diz que os políticos somalis perderam toda a credibilidade junto da população. Mas vão permananecer no poder graças às suas posses financeiras. Os futuros postos mais importantes já foram vendidos e comprados a peso de ouro. Por isso as palavras de Abukar Sheikh Ali quase soam a optimismo: "As coisas só podem melhorar. Mas o novo governo não vai corresponder às expectativas do povo. Mesmo assim, mais vale um mau governo do que governo nenhum".
A eleição do novo presidente é apoiada pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional. Eles pretendem ajudar o país a instaurar um governo que não existe há cerca de 20 anos. Devido a permanente falta de segurança no país o presidente do Parlamento, Musa Hassan Abdalla, pediu a ONU um lugar alternativo onde os deputados possam trabalhar.
Autora: Bettina Rühl/Cristina Krippahl/Lusa
Edição: Nádia Issufo/António Rocha