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Sudão: População faminta sitiada em El Fasher

Jennifer Holleis
20 de junho de 2024

A situação humanitária está a agravar-se no Sudão. O conflito entre Forças Sudanesas e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido tem um novo epicentro: a cidade de El Fasher. Lá, a DW conversou com civis sitiados.

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Sudan Darfur El Fasher
Foto: AFP

A luta para sobreviver à guerra civil no Sudão afeta pessoas como Taj-Alseer Ahamed. Depois de dois meses na cidade sitiada de El Fasher, no Darfur, Ahamed já não sabe o que fazer.

"Não temos dinheiro para comprar comida ou água. Não sabemos onde estão os nossos familiares. Não conseguimos dormir e temos de nos esconder das balas e dos mísseis dia e noite", lamenta.

Durante o primeiro ano de guerra, que eclodiu em abril de 2023 entre as Forças Armadas Sudanesas e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido, El Fasher tinha-se tornado um local relativamente seguro para mais de um milhão de pessoas, incluindo 800 mil deslocados internos.

No entanto, em meados de abril deste ano, a situação mudou. O centro humanitário, que está sob o controlo dos militares sudaneses, tornou-se a última grande zona de batalha na região do Darfur, que está em grande parte sob o controlo das Forças de Apoio Rápido.

Taj-alseer Ahamed, refugiado na cidade sitiada de El Fasher
Taj-alseer Ahamed, refugiado na cidade sitiada de El FasherFoto: DW

Dificuldades em contabilizar refugiados 

Mohammad Mousa, outro deslocado interno, questiona: "Somos apenas pessoas que não pertencem a nenhum lado, então porque estamos a ser bombardeados e mortos? Há alguns dias, dezenas de civis inocentes foram mortos no nosso bairro”.

Hamid Adam, vizinho de Mousa, mostrou à DW os restos da sua casa: "Eram quinze para as nove da manhã quando o primeiro míssil explodiu na rua. Depois, o segundo explodiu e o terceiro rebentou em frente à minha casa. Não se trata apenas de fogo de artilharia, mas de um míssil suficientemente forte para destruir montanhas, mas que nunca deveria ser utilizado contra seres humanos."

Até à semana passada, os combates em El Fasher cusaram a morte de 226 pessoas, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). As Nações Unidas afirmam também que cerca de 130.000 pessoas fugiram da cidade desde abril.

No entanto, ambos os números podem ser muito mais elevados, uma vez que os combates em curso dificultam o registo dos refugiados e das vítimas.

Desde o início do conflito no Sudão, há mais de um ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 16.000 pessoas foram mortas e 33.000 ficaram feridas. A guerra também deslocou mais de 9 milhões de pessoas e deixou cerca de 5 milhões à beira da fome.

Um mercado de El Fasher destruído nos combates
Um mercado de El Fasher destruído nos combates Foto: AFP

"Trata-se de um crime de guerra"

Mohamed Osman, investigador do Sudão na Divisão de África da Human Rights Watch, afirma que a região continua a ser palco de "bombardeamentos e ataques aéreos incessantes, queima de áreas residenciais e ataques que danificaram significativamente infraestruturas importantes para a população, especialmente os cuidados de saúde".

"A vida tornou-se insuportável para aqueles que permanecem na cidade. A situação humanitária é muito grave. As Forças Armadas sudanesas e as Forças de Apoio Rápido estão a restringir e a dificultar extremamente a ajuda", denuncia.

E o investigador apela: "É preciso chamar a atenção para este facto. Trata-se de um crime de guerra. Precisamos de mais ação política, de uma ação concertada e coordenada para pressionar as partes a permitirem um acesso humanitário sem restrições".

Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que exige o fim do cerco. O órgão internacional expressou "grande preocupação" com a propagação da violência, à luz de relatos credíveis de que as Forças de Apoio Rápido estão a levar a cabo "violência com motivações étnicas" em El Fasher.

No entanto, pouco parece estar a mudar no terreno. Os correspondentes da DW confirmaram, na terça-feira, a continuação dos combates e a falta de água, alimentos e ajuda humanitária.))

Sudão em pé de guerra civil