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"Temos de semear a alternância governativa", diz MCK

João Carlos (Lisboa)3 de setembro de 2015

O rapper angolano MCK critica regimes "eternos". No início de setembro, ele e outros músicos exigiram em Lisboa "liberdade já!" para os jovens presos em Angola desde junho, acusados de tentativa de golpe de Estado.

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Rapper angolano MCK

MCK, tal como outros músicos da sua geração, tem uma aspiração: "Acima de tudo, fazer com que, juntos e com olhos firmes no futuro, possamos construir uma Angola onde a paz não fique pura e simplesmente pelo fim das hostilidades militares, mas se traduza na tolerância e na valorização das ideias dos outros."

Essa é umas das principais mensagens do novo CD do músico angolano, com o título "Proibido Ouvir Isto", em que MCK reivindica uma nova Angola. A música de intervenção marca o álbum apresentado no dia 1 de setembro na sala de espetáculos Musicbox, em Lisboa.

"Essa é uma marca nossa que visa colocar a mensagem em primeiro plano e, acima de tudo, colocar a semente para a construção de uma Angola melhor. É uma marca de todos os álbuns."

Encontro de gerações

MCK convidou o cantor Bonga para o seu concerto na capital portuguesa – foi um "encontro de gerações" que travam uma "luta comum", embora com abordagens diferentes.

Die Musiker Bonga und Rapper MCK aus Angola in Lissabon
Bonga e MCK num "encontro de gerações"Foto: João Carlos/DW

"Bonga teve de sair para mudar de fora para dentro e fez um trabalho extraordinário. Mas eu pertenço a uma geração que tem de mudar lá dentro", diz MCK. "O importante é que deve existir essa dualidade de esforços e união. O importante é construir um país onde não seja preciso sair para estudar fora ou para tratar de uma simples dor de cabeça ou malária. O importante é construir um país de que nos possamos todos orgulhar."

Uma das canções que MCK entoou no Musicbox chama-se "Talatona", uma espécie de apelo à melhor distribuição da riqueza em Angola, em que se exige uma "maior dignidade habitacional" e um maior investimento das receitas dos recursos naturais no abastecimento de água, de luz e no saneamento básico.

"Tudo o que se ganha no país tem de ser distribuído de forma equitativa. Os recursos pertencem a todos. E 'Talatona' fala sobre isso."

Regimes "eternos"

MCK também condena a longa permanência no poder de alguns dirigentes africanos. E, a propósito, lamenta que o Presidente do seu país, José Eduardo dos Santos, tenha sido, simultaneamente, Presidente dos seus pais e dos seus filhos.

"Pensar na eternidade do poder não ajuda em nada. Temos de começar a semear a alternância governativa", afirma. "As coisas eternas, normalmente, não são boas. Essa ideia de permanecer muito tempo no Governo não funciona em nenhuma parte do mundo e há exemplos disso em muitos países."

"Liberdade já!" para 15+1

O concerto de MCK em Lisboa foi dominado pela crítica social e política, com um persistente apelo à "liberdade já!" para os quase vinte jovens que continuam presos em Angola.

O apelo foi feito por músicos de épocas e experiências diferentes.

"Temos de semear a alternância governativa", diz MCK

O cantor Bonga, considerado como o maior símbolo da angolanidade e da liberdade de expressão artística, também deu a sua voz à causa. "A geração de Bonga lutou contra a opressão colonial e a minha geração veio exigir maiores liberdades, vem denunciar a corrupção, vem exigir maior transparência", diz MCK.

O rapper angolano anunciou que as receitas do espetáculo em Lisboa serão destinadas, na totalidade, a apoiar as famílias dos jovens detidos, que passam por enormes dificuldades.

"Todo o valor vai ser para ajudar aquelas famílias dos detidos, que enfrentam enormes dificuldades para as visitas ou para as refeições", diz MCK. "Não é muito [dinheiro], mas vai ter um significado muito forte para as famílias."

Rapper MCK aus Angola
MCK durante um concerto (foto de 2012)Foto: MCK
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