Teodoro Obiang encontra-se com português que salvou da morte
28 de junho de 2022Teodoro Obiang foi recebido esta terça-feira (28.06) na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) onde, sem se referir ao processo de abolição da pena de morte no seu país, prometeu cumprir todas as recomendações de adesão exigidas pela organização.
"Nós estamos dispostos, estamos a organizar-nos para cumprir todas as condições que exigem todos os países membros da CPLP", disse o Presidente equato-guineense em declarações à imprensa, sem direito a perguntas.
Ladeado por Zacarias da Costa, secretário-executivo da CPLP, Obiang assegurou que o português, que era considerado língua estrangeira na Guiné Equatorial, está em fase de crescimento, sobretudo porque muitos jovens já aprendem a língua nas escolas.
"A língua portuguesa vai transformar-se num idioma falado por todo o país", prometeu.
O Presidente da Guiné Equatorial está em Portugal como uma das altas figuras de Estado convidadas para a conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que decorre em Lisboa até 1 de julho.
Fazem parte da comitiva presidencial equato-guineense a primeira-dama Constancia Mangue, o ministro das Relações Exteriores, Simeon Oyono Esono, bem como o moçambicano Murade Muragy, o ex-secretário executivo da CPLP que assume o posto de Conselheiro Especial de Obiang para a Língua Portuguesa.
O chefe de Estado da Guiné Equatorial tem tido vários encontros bilaterais, entre os quais com o presidente da Assembleia Geral da ONU, Addulla Shahid; esteve na Feira Internacional de Artesanato (FIA), será recebido esta quarta-feira pelo seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e visitará o Santuário de Fátima.
"Obiang foi compreensivo e libertou-me"
No hotel onde está hospedado em Lisboa, Obiang fez questão de receber o jornalista português Jorge Trabulo Marques, que esteve preso numa cadeia em Malabo há 47 anos, depois de 38 dias de tentativa de travessia do Oceano Atlântico numa canoa, a partir de São Tomé.
Marques conta que tinha na altura 30 anos e que foi Obiang, então comandante supremo das Forças Armadas, quem o salvou da morte.
"Fui dado na altura como espião, porque era difícil acreditarem que um europeu se metesse numa canoa", conta Jorge Trabulo Marques em entrevista à DW África.
"Fui conduzido à cadeia de máxima segurança Black Beach e condenado à forca. Ao fim de cinco dias, quando eu estava a caminhar, o telefone toca e era o então comandante Obiang, sobrinho do Presidente Macías, que me chamou à sua presença para me comunicar a ordem de execução do Presidente."
Mas Obiang, então com 33 anos de idade, contrariou as ordens de execução de seu tio Macías Nguema.
"Graças a Deus, ele foi compreensivo, foi generoso, acreditou na minha palavra e libertou-me. Estive aqui hoje para lhe agradecer a vida, porque eu vi a morte à minha frente. Ouvia todas as noites os gritos lancinantes; era a cadeia do terror. Quem entrava vivo saía no caixão."
Neste reencontro, o jornalista transmitiu a sua gratidão oferecendo um quadro pintado com o retrato do homem que lhe salvou a vida, num país onde predomina o castelhano e onde ainda não foi totalmente abolida a pena de morte.