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Terrenos férteis em países pobres são cobiçados

14 de fevereiro de 2011

Entre 2006 e 2009 os países industrializados e emergentes compraram mais de trinta milhões de hectares ao Terceiro Mundo, a área quase equivalente à superfície da Alemanha

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População local não beneficia dos negócios com terrenosFoto: AP

Assegurar o fornecimento de plantas alimentares às suas próprias populações, investindo, para este fim, muitos milhares de milhões em países pobres. Essa é a fórmula adoptada por muitos Estados.

China, Coreia do Sul, Estados do Golfo e India adquirem cada vez mais àreas aráveis em países em desenvolvimento. As culturas são depois exclusivamente exportadas para os países investidores.

É dinheiro bem-vindo pelos governos que vendem, mas que nunca chega aos camponeses locais, que, por vezes, já cultivam as terras compradas há muitas gerações, diz Martin Bröckelmann-Simon, do agência de desenvolvimento católica, Misereor.

“Devido aos sistemas tradicionais de cultivo estas terras são consideradas como não-cultivadas e vendidas como tal pelos governos, apesar de milhares de famílias viverem nelas. Muitas vezes têm que abandonar as suas terras de um dia para o outro”.

Os países em vias de desenvolvimento são extremanente dependentes de capital estrangeiro. Os governos destes Estados tentam, por isso, atrair com promessas e benesses países e empresas que procuram terra para cultivar. Mas, os camponeses não beneficiam destes dinheiros, que são investidos em objetos de prestígio. Um exemplo é o Quénia, onde o emirado do Qatar cultiva fruta e legumes numa área de 40 000 hectares. Em contrapartida o Qatar prometeu financiar o alargamento de um porto queniano.

Kleinbauer Mosambik
Um pequeno agricultor de Moçambique num terreno pouco arávelFoto: DW

Biocombustíveis ameçam a agricultura local

A procura crescente de energia pelos países emergentes leva a um aumento das superfícies cultivadas para ganhar biocombustíveis. A China planeia a maior plantação de óleo de palma do mundo na República do Congo. Alegadamente Pequim já arrendou quase três milhões de hectares para este fim.

O especialista Bröckelamnn-Simon alerta para as consequências catastrofais que ameaçam a destruição da agricultura autóctone.“Estes investimentos colocam em perigo a soberania alimentar dos países alvo, fomentando a fome, a fuga para as cidades e a pobreza”.

Não existem números exatos que permitam avaliar com precisão a extensão deste fenômeno também apelida de «land-grabbing», a expressão inglesa para “deitar a mão à terra”. Geralmente as transações são mantidas secretas.

A organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação, FAO, estima que entre 2006 e 2009 os países industrializados e emergentes compraram mais de trinta milhões de hectares ao Terceiro Mundo, a área quase equivalente à superfície da Alemanha.

O instituto Internationl Food Policy, em Washington, capital dos Estados Unidos da América, calcula o volume dos investimentos em trinta mil milhões de dólares.

A FAO juntou-se a governos e organização não-governamentais para elaborar um conjunto de regras internacionais que possa solucionar este problema. Marita Wiggerthle da secção alemão da organização de assistência Oxfam salienta:“A questão mais importante, no fim de contas, é se estas regras também serão aplicadas, ou se não passarão de um bonito documento que ninguém vai levar a sério”.

Landschaft in Äthiopien Flash-Galerie
Aos agricultores africanos restam apenas terras áridas impróprias para o cultivo de alimentosFoto: picture alliance/imagestate/Impact Photos

Autor: Christoph Ricking/ Cristina Krippahl/ Daniel Machava
Revisão: Helena Ferro de Gouveia