Terrorismo islâmico mata várias pessoas e provoca debandada na Nigéria
8 de novembro de 2011Os residentes de Maiduguri, capital do Estado de Borno, no nordeste da Nigéria, começaram a fugir na terça-feira (08.11) após os violentos atentados bombistas de sexta-feira (04.11), reivindicados pelo grupo radical islâmico 'Boko Haram', que causaram a morte a mais de 100 pessoas e abriram caminho a confrontos armados com a população cristã.
Segundo uma contagem da Associated Press, apenas em 2011, os ataques já causaram a morte a pelo menos 360 pessoas tendo a generalidade dos atentados e ações terroristas sido caraterizada por graus mais elevados de sofisticação e violência.
O padre Idi Garba, citado pela agência Reuters, informou na terça-feira (08.11) que a quase totalidade dos cristãos e não nativos do vizinho Estado de Yobe, também fugiu das suas casas em Damaturu, capital estadual. O clérigo acrescentou que as cidades estão desertas, sem proteção policial ou militar.
Recrudescimento da violência
Os radicais islâmicos têm executado sumariamente dirigentes ou crentes não muçulmanos, através de atentados bombistas ou de disparos de metralhadoras feitos a partir de motocicletas.
No idioma haussa, "Boko Haram”, fundado em 2002, significa que "o ensino moderno é pecado" pelo que os seus militantes defendem uma sociedade livre de influências ocidentais e fiel aos valores fundamentais do Islão e do Alcorão suspeitando-se que mantenham ligações com grupos terroristas internacionais.
Cruzada anti-ocidental
Até agora, Borno foi o principal teatro de operações do 'Boko Haram', mas o fato de ter alargado as ações terroristas a Yobe parece indicar que os seguidores do seu fundador Mohammed Yusuf, morto pela polícia em 2009, em Maiduguri, estão empenhados numa escalada do conflito com os poderes instituídos naquelas regiões da Nigéria.
Em julho de 2010, na sequência do recrudescimento das ações terroristas do Boko Haram, violentamente reprimidas pelas autoridades, grupos de defesa dos direitos humanos criticaram duramente as forças de segurança nigerianas e chegaram a pedir a retirada das forças especiais da região por alegadamente causarem mais danos que benefícios.
Depois dos ataques, o governador do Estado de Borno, Kashim Shettima, mostrou-se aberto a uma negociação condicionada com o grupo radical islâmico: “Só podemos negociar com o ‘Boko Haram’ a partir de uma posição de força e não a partir de uma posição de inferioridade”.
Terroristas rejeitam negociar
No domingo (06.11), segundo a agência Reuters, Shettima exortou os também apelidados de ‘talibãs nigerianos’ a aceitar o diálogo mas a direção do ‘Boko Haram’ não apenas recusou como exigiu a demissão de Shettima do governo estadual de Borno e a adoção da lei islâmica ‘sharia’ em todo o nordeste da Nigéria.
Um dos combatentes do ‘Boko Haram’ que desejou manter o anonimato e se autointitulou "combatente pela causa de Deus", ou mujahedin, explicou as razões da recusa: “As pessoas do governo perseguiram-nos e assassinaram a nossa gente. Alguns foram hospitalizados, outros envenenados na prisão. Mataram o nosso líder [Mohammed Yusuf] e outros membros do grupo que poderiam dialogar se ainda estivessem vivos”.
Em declarações privadas, membros do 'Boko Haram' confirmaram que alguns dos seus combatentes estariam a ser treinados na Somália por milícias do Al Shebab, grupo radical islâmico ligado à rede terrorista internacional Al Qaeda.
Na Nigéria, especialistas em grupos islâmicos acham que essa teoria pode ser credível mas dizem que mais do que as influências externas, as questões internas, como o desemprego juvenil, podem ser mais determinantes para o fortalecimento de grupos radicais daquele tipo.
Autores: Thomas Mösch / Renate Krieger
Ediçao: Pedro Varanda de Castro /António Rocha