Ucrânia aceita negociar com a Rússia
27 de fevereiro de 2022Neste domingo (27.2), as ameaças entre Moscovo e o Ocidente subiram de tom, a ponto do Presidente russo, Vladimir Putin, anunciar forças nucleares russas em "regime especial". Isso significa que Putin ordenou que armas nucleares russas fossem preparadas para uma maior prontidão de lançamento.
Após o anúncio de Moscovo, que chocou o mundo, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy disse que estava disposto a "tentar" conversações com a Rússia, mas acrescentou que é "céptico" se estas conduzirão a um cessar-fogo.
"Aleksandr Lukashenko (o Presidente bielorrusso) me pediu que as delegações russa e ucraniana se reunissem no rio Pripyat. Ressalto: sem condições. E digo isso com franqueza, como sempre, não acredito muito no resultado desta reunião. Mas vamos tentar", afirmou.
Bielorrússia media negociações
O presidente bielorrusso "assumiu a responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis estacionados em território bielorrusso permaneçam no solo durante a viagem, as negociações e o retorno da delegação ucraniana" a Kiev.
Pouco antes, a Rússia informou que sua delegação estava indo para a região de Gomel, perto da fronteira ucraniana, para negociar uma possível cessação das hostilidades com a Ucrânia, segundo o chefe da delegação russa, Vladimir Medinski, assessor do presidente Vladimir Putin.
"No momento, está sendo elaborado o caminho para escolher o local na região de Gomel onde será garantida a máxima segurança para o lado ucraniano", detalhou Medinski. O encontro acontece no posto de controle Aleksandrovka-Vilcha, na fronteira ucraniana-bielorrussa, próximo à "zona de exclusão" criada em torno da usina nuclear de Chernobyl após o acidente de 1986.
Nesta manhã, Zelensky se recusou a negociar no território da Bielorrússia, país que acusou de ser cúmplice da agressão da Rússia ao seu país. "Varsóvia, Budapeste, Istambul, Baku, propusemos tudo isso para o lado russo e, de fato, qualquer outra cidade em qualquer país de onde os mísseis não sejam lançados contra nós vale a pena", disse Zelensky em outra mensagem de vídeo.
União Europeia (UE) anuncia compra de armas
Na sequência do anúncio de Zelensky, pela primeira vez em sua história, a União Europeia (UE) anunciou que compraria armas para um país sob ataque, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A presidente da Comissão Europeia também propôs a proibição da passagem de qualquer avião russo pelo espaço aéreo da União Europeia e o veto às transmissões da Russia Today e da Sputnik em território comunitário, bem como novas sanções contra Bielorrússia por sua colaboração na invasão da Ucrânia.
Também o grupo G7 das principais nações industrializadas advertiu Moscovo de que poderia enfrentar sanções adicionais se a guerra na Ucrânia continuasse. Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos também concordaram hoje que quaisquer ganhos militares russos na Ucrânia não receberiam reconhecimento internacional.
A Suécia disse hoje que enviaria lançadores anti-tanque, rações de campo, capacetes e coletes anti-tanque para a Ucrânia.
Mais cedo, esta manhã, o chanceler alemão Olaf Scholz anunciou gastos massivos com a Defesa do país que, segundo ele, implicará o compromisso chave de pelo menos 2% do PIB da Alemanha; à medida que o conflito na Ucrânia obrigada Berlim a repensar a sua política externa.
Portugal, além de outros países, decidiu fechar o seu espaço aéreo a companhias russas. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reiterou hoje ao homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, a "condenação veemente" de Portugal à invasão russa da Ucrânia e o "apoio solidário à corajosa resistência ucraniana".
Protestos
Ativistas russos contra a guerra continuaram hoje a manifestar-se nas ruas, de Moscovo à Sibéria, protestando contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, apesar das detenções de centenas de manifestantes ocorridas nos últimos dias.
Durante os quatro dias da guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia, as autoridades russas detiveram 5.250 pessoas por se manifestarem contra o conflito, segundo informou neste domingo a OVD-info, organização especializada em monitorar prisões e defender detidos
Desde o início da invasão russa, protestos eclodiram em várias cidades do mundo contra a guerra travada por Putin. Em Berlim, neste domingo, centenas de milhares de pessoas se manifestaram sob o lema "Pare a guerra. Paz para a Ucrânia e toda a Europa". Estima-se o número de participantes em cerca de meio milhão, apesar de apenas cerca de 20.000 pessoas terem se registradas.
Os manifestantes exigiram que o Governo russo encerre os ataques, retire-se da Ucrânia e restaure sua integridade territorial, e pediram ao Executivo alemão que mantenha as fronteiras abertas para refugiados.
A Ucrânia informa que pelo menos 352 civis, entre eles 14 crianças, foram mortos no país em decorrência do conflito. Hoje, a agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), aumentou o número de refugiados ucranianos que deixaram seu país devido à guerra para 368 mil, incluindo os 150 mil que fugiram para a vizinha Polônia.
Nesta segunda-feira (28.2), o Conselho de Segurança da ONU realizará outra reunião urgente sobre a guerra na Ucrânia para abordar a crise humanitária, informaram neste domingo fontes diplomáticas.