Ucrânia: Ataque russo a hospital é "crime de guerra"
10 de março de 2022Pelo menos 17 adultos ficaram feridos num bombardeamento, esta quarta-feira (10.03), a um hospital pediátrico em Mariupol, no sudeste da Ucrânia, pelas forças russas, anunciaram as autoridades ucranianas. Segundo o primeiro relatório deste ataque aéreo russo à cidade portuária no sudeste da Ucrânia, não há crianças entre os feridos e "nenhuma morte".
O ataque da Força Aérea russa é "um crime de guerra", denunciou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. "Hoje é o dia que define tudo. Quem está de que lado. Bombas russas caíram sobre um hospital e uma maternidade em Mariupol (...) Os prédios estão destruídos. Nesta fase há 17 mortos. Os escombros estão a ser retirados", realçou o chefe de Estado da Ucrânia, através de um vídeo.
"Que tipo de país, a Rússia, tem medo de hospitais e maternidades e os destrói?", acrescentou, denunciando "atrocidades" infligidas a Mariupol, que está submetida a um bloqueio russo há mais de uma semana. Volodymyr Zelensky apelou a uma união na condenação ao ataque: "Europeus! Ucranianos! Moradores de Mariupol! Hoje temos de nos unir condenar este crime de guerra da Rússia, que reflete todo o mal que os invasores fizeram ao nosso país".
O bombardeamento de um hospital pelas forças russas provocou indignação na comunidade internacional, quer por vários países ocidentais, como Estados Unidos e Reino Unido, quer por organizações como a ONU.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o bombardeamento a um hospital em Mariupol, onde estão localizadas maternidades e alas pediátricas, considerando-o "horrível", e voltou a pedir o fim da "violência sem sentido".
"Civis estão a pagar o preço mais alto"
Em Moscovo, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, referiu que "nacionalistas ucranianos" fizeram sair pacientes e funcionários do hospital para depois o usarem como base para disparos.
Cerca de 300.000 civis estão 'presos' há vários dias devido aos combates no porto estratégico de Mariupol, no mar de Azov, ficando privados de água, alimentos, eletricidade e ajuda humanitária. O mais recente balanço divulgado pela Câmara de Mariupol aponta para 1.207 civis mortos após nove dias de cerco russo naquela localidade.
"Os civis estão a pagar o preço mais alto por uma guerra que não tem nada a ver com eles. Esta violência sem sentido deve parar. Acabem com o derramamento de sangue agora", afirmou António Guterres numa pequena mensagem publicada no Twitter.
Também a diretora executiva da UNICEF, Catherine Russell, disse estar "horrorizada" pelo ataque à unidade hospitalar. "Ainda não sabemos o número de vítimas, mas tememos o pior", referiu em comunicado Catherine Russel. "Em menos de duas semanas, pelo menos 37 crianças foram mortas e 50 feridas, enquanto mais de um milhões de crianças fugiram da Ucrânia para países vizinhos", observou.
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) repetiu o seu apelo a uma resolução pacífica do conflito, condenando o ataque contra o hospital pediátrico. "Estamos cientes de relatos perturbadores de um ataque a uma maternidade em Mariupol. A OMS condena inequivocamente qualquer ato de violência contra unidades de saúde e seus pacientes", lamentou no Twitter o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Retirada de civis continua
Entretanto, a porta-voz da administração do Presidente norte-americano, Jen Psaki, alertou na noite de quarta-feira que a Rússia pode estar a preparar-se para "usar armas químicas ou biológicas na Ucrânia", depois de Moscovo ter feito considerações sobre Washington. "Isso tudo é uma manobra óbvia da Rússia para tentar justificar o seu ataque premeditado, não provocado e injustificado à Ucrânia", atentou no Twitter Jen Psaki.
A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou na quarta-feira à noite um novo orçamento federal no qual se prevê 14 mil milhões de dólares (12,7 mil milhões de euros) para a crise ucraniana. O texto, no qual se inclui uma ajuda económica e humanitária, mas também armas e munições para Kiev, deve agora ser votado no Senado antes de ser promulgado pelo Presidente norte-americano, Joe Biden.
No terreno, continuam as evacuações. Pelo menos 35.000 civis foram retirados de cidades ucranianas na quarta-feira, segundo o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O chefe de Estado adiantou, numa mensagem de vídeo na quarta-feira à noite, que os residentes das cidades de Sumy, Enerhodar e áreas próximas de Kiev tinham sido retirados através de três corredores humanitários.
Zelensky disse esperar que as evacuações prosseguissem esta quinta-feira, com a abertura de mais três corredores humanitários a partir das cidades de Mariupol, sitiada há nove dias, Volnovakha e Izum.
Lavrov e Kuleba cara a cara
Também esta quinta-feira, a Turquia recebe os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Ucrânia, Serguei Lavrov e Dmytro Kuleba, respetivamente, naquela que será a sua primeira reunião cara a cara desde o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, que entra hoje no 15º dia.
Responsáveis de Kiev e Moscovo já se reuniram em outras ocasiões, mas esta é a primeira vez que a Rússia envia um ministro para as conversações sobre a crise.
As conversações entre Kiev e Moscovo resultaram até agora em cessar-fogos e na abertura de corredores humanitários para retirar civis de cidades sitiadas, mas a Rússia tem sido acusada de violar os acordos.
Kuleba já afirmou que as expetativas eram limitadas, uma vez que a Rússia mantém uma campanha de bombardeamentos e um cerco às grandes cidades.
As conversações ilustram os esforços do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para desempenhar um papel de mediador desde o início da crise. "Estamos a trabalhar para evitar que esta crise se transforme numa tragédia", disse Erdogan na quarta-feira.
Já os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) iniciam esta quinta-feira, em Versalhes, França, uma cimeira informal de dois dias originalmente consagrada à economia, mas que se focará agora na defesa e energia, por força da ofensiva russa na Ucrânia.
Os líderes dos 27 vão designadamente discutir, no histórico Palácio de Versalhes, formas de reduzir a dependência europeia do petróleo e do gás russo e como lidar com o aumento dos preços da energia. O encontro também será focado no reforço das capacidades de defesa da UE.