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Uganda perto do limite no acolhimento a refugiados

Linda Staude | mjp
19 de abril de 2017

Fome e guerra civil levam centenas de milhares de pessoas a abandonar o Sudão do Sul e a refugiar-se no Uganda, onde os campos estão sobrelotados. Autoridades queixam-se de falta de apoio da comunidade internacional.

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Foto: Getty Images/D. Kitwood

Centenas de pessoas exaustas esperam sentadas ao sol entre nuvens de pó. Numa mesa de madeira sob um telhado improvisado, funcionários do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) registam os recém-chegados ao campo de Ngomoromo, uma localidade no norte do Uganda. Os refugiados inscritos nestas listas vêm da aldeia de Pajok, no Sudão do Sul, atacada pelas forças do Governo.

"Começaram com os homens. Disseram que iam matar todos os homens com mais de 15 anos, porque são rebeldes ou apoiam os rebeldes. Mas eles são inocentes, não sabem de nada", conta um dos refugiados sul-sudaneses.

Alguns destes homens foram decapitados pelos soldados. Passord Okot foi forçado a assistir à execução dos seus dois irmãos: "Continuo em choque, o meu coração está pesado. Já pensei em voltar para que me matem. Não consigo aguentar isto".

O agricultor é um dos cerca de 800 mil sul-sudaneses que se refugiaram no país vizinho para fugir da guerra civil e da fome. Mas o Uganda está a chegar ao limite. "As comunidades de acolhimento e as agências humanitárias têm muitas dificuldades em lidar com o afluxo constante de refugiados", explica o porta-voz do ACNUR, Babar Baloch. "Todos os dias cerca de dois mil sul-sudaneses chegam ao norte do Uganda. E o número não está a diminuir".

Uganda - Flüchtlingscamp
Campo de refugiados de Bidi BidiFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Lynch

Campos sobrelotados e sem condições

Em Ngomoromo, os refugiados constroem abrigos improvisados com madeira e lona. Não há casas de banho suficientes. Formam-se filas gigantes junto aos balcões de distribuição de comida.

A situação está longe de ser resolvida. Desde o final do ano passado, o Uganda abre um novo campo de refugiados a cada dois meses. Em dezembro, o maior campo de refugiados do mundo, Bidi Bidi, fechou as portas aos recém-chegados. Com cerca de 280 mil habitantes, está completamente sobrelotado. Jesse Kamstra, da Federação Luterana Mundial, afirma que "esta é atualmente a maior crise de refugiados em África, a terceira maior do mundo" e, mesmo assim, "não há qualquer atenção por parte da comunidade internacional".

"Não sei quantos mais milhares de pessoas têm de fugir ou morrer para que a comunidade internacional acorde e perceba o que se está a passar aqui", diz Kamstra.

19.04 Uganda recebe centenas de milhares de refugiados sul-sudaneses - MP3-Mono

Mudanças na política de acolhimento?

A ONU angariou este ano 500 milhões de dólares para financiar o apoio aos refugiados no Uganda. Até agora, recebeu apenas 7% deste valor. As consequências fazem-se sentir em todos os setores, segundo o diretor do campo de refugiados de Ngomoromo."Os centros de saúde estão sobrelotados. Não há medicamentos suficientes e falta pessoal para chegar aos refugiados nas aldeias", afirma Jonathan Matata.

O Uganda é conhecido pela sua política generosa de acolhimento aos refugiados. Quem procura abrigo no país recebe terras que pode cultivar e é livre de viajar e trabalhar. Mas, sem ajuda internacional urgente, é apenas uma questão de tempo até haver mudanças nesta política.

A maioria dos refugiados, como Rachel, já perdeu a esperança no fim da crise no Sudão do Sul: "Não há paz no meu país. Por isso, vim para o Uganda. Por causa da guerra, não tenho qualquer esperança no Sudão do Sul ou no meu futuro".

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