Uganda sob tensão antes das eleições gerais
17 de fevereiro de 2016Espera-se que Yoweri Museveni, no poder há 30 anos, seja reeleito nas eleições gerais de quinta-feira (18.02). Mas vários analistas acreditam que a votação pode ser a mais renhida da história do país. Os principais adversários do Presidente ugandês são Kizza Besigye, figura popular da oposição, e Amama Mbabazi, seu antigo primeiro-ministro. Ambos atraíram grandes multidões durante a campanha eleitoral. Ao todo, oito candidatos concorrem à Presidência.
Esta terça-feira, no último comício na capital ugandesa, Yoweri Museveni garantiu aos seus apoiantes que nada vai interromper a paz que ele e o seu partido, o Movimento de Resistência Nacional (NRM, em inglês), trouxeram ao país nas últimas décadas.
"Ninguém deve assustar-vos", afirmou Museveni perante uma multidão em Kampala. "Poderão ver o que faremos a quem tentar causar violência. Se querem violência, essas pessoas devem sair do Uganda e ir para outro lugar."
Museveni, de 71 anos, chegou ao poder através de um golpe de Estado, em 1986, mas só dez anos depois foi eleito pela primeira vez. Inicialmente, declarava-se contra os presidentes africanos que se mantinham por muito tempo no cargo.
Durante a campanha, o Presidente, que concorre a um quinto mandato, foi espalhando por todo o país uma mensagem de desenvolvimento e prosperidade para todos: "A mensagem do Movimento de Resistência Nacional é que a união traz força, a força cria paz, a paz traz desenvolvimento, o desenvolvimento traz riqueza e a riqueza cria empregos. Mas para ocupar os postos de trabalho é preciso ter competências e, por isso, vamos criar mais escolas técnicas."
Morte e detenção nas vésperas das eleições
O maior adversário de Museveni nesta corrida é Kizza Besigye, que foi seu médico pessoal.
Na segunda-feira, o candidato do Fórum para a Mudança Democrática (FDC) foi detido durante algumas horas, quando tentava entrar na capital com seguidores, numa marcha que, segundo a polícia, não foi autorizada. Uma pessoa morreu e várias ficaram feridas durante confrontos entre as forças de segurança e os apoiantes de Besigye.
No último dia de campanha, o líder da oposição esteve nos arredores da capital, onde fez várias paragens para falar com simpatizantes. Desta vez, a equipa de Besigye combinou com a polícia a rota a seguir, de forma a evitar conflitos com as autoridades.
Besigye pediu aos seus apoiantes para afluírem em grande número às urnas no dia da votação. Ao mesmo tempo, acusou o presidente da Comissão Eleitoral, Badru Kiggundu, de parcialidade: "O professor Kiggundu e porta-vozes da Comissão Eleitoral fizeram repetidamente declarações para denegrir os candidatos da oposição. Numa entrevista televisiva, Kiggundu disse que, se dependesse dele, eu não seria indicado [para concorrer ao cargo]. Isto é ultrajante."
Amama Mbabazi, ex-primeiro-ministro de Museveni, realizou o último comício na Universidade de Makerere, prometendo que só seria Presidente durante cinco anos e que iria transferir o poder para a juventude.
Eleições livres e justas?
Entretanto, um grupo de observadores locais diz ter reunido provas de brutalidade policial e de suborno de eleitores pelos candidatos.
"Como observadores, temos registado incidentes de abusos e não hesitaremos em fazer uso desta informação se surgirem problemas", disse Livingston Sewanyana, membro da Rede de Cidadãos Observadores Eleitorais. "Quem não cumprir a lei será responsabilizado. Estamos prontos a fornecer provas documentais a quem quiser recorrer aos tribunais."
Observadores internacionais, entre os quais o antigo Presidente tanzaniano Hassan Mwinyi e o ex-chefe de Estado nigeriano Olusegun Obasanjo, já chegaram ao Uganda para acompanhar as eleições de quinta-feira.