Yoweri Museveni 30 anos no poder
26 de janeiro de 2016Yoweri Museveni, Presidente do Uganda é a partir desta terça-feira (26.01) juntamente com os seus homólogos de Angola, José Eduardo dos Santos, e do Zimbabué, Robert Mugabe, um dos cinco chefes de Estado africanos que lideram o seu país há mais de 30 anos.
Para a maioria dos ugandeses, é mesmo o único Presidente: dos 35 milhões de habitantes do país, três quartos não eram nascidos quando Museveni subiu ao poder. Um facto que tem consequências, diz a analista política Mareike Le Pelley, que dirige a Fundação Friedrich Ebert na capital do Uganda, Kampala.
“O maior problema é que a população perdeu a esperança de alternativas. A maioria dos ugandeses conhece apenas Museveni como Presidente e não vêem uma alternativa, porque o Presidente tem acesso a recursos estatais, tem apoios e exerce pressão”, afirma Le Pelley.
Depois de três décadas no poder, Museveni e o seu partido, o Movimento de Resistência Nacional, confundem-se com o Estado. Os limites, aparentemente, desapareceram, diz Le Pelley. Uma vantagem para o Presidente, na atual campanha eleitoral com vista às presidenciais de 18 de Fevereiro:
“O Presidente faz questão de deixar claro que é o dono de todo o dinheiro do país e que não pode levar o desenvolvimento às regiões que não votaram nele. É uma mistura complexa entre o Estado e o partido no poder que passa despercebida à maior parte das pessoas. E isto dificulta muito as mudanças.”
Museveni no poder desde 1986 depois de um golpe de Estado
Quando chegou ao poder, através de um golpe de Estado, em 1986, Yoweri Museveni surgiu como um inovador, declarando-se contra os presidentes africanos que se mantinham por muito tempo no cargo.
[Chegava ao fim um período de confrontos sangrentos e instabilidade política, abrindo-se o caminho à recuperação económica do país. Ainda assim, Museveni foi eleito pela primeira vez apenas 10 anos depois de chegar ao poder, em 1996.
Com uma nova Constituição, estabeleceu um sistema de partido único. 10 anos mais tarde, uma reforma constitucional instaurou o multipartidarismo, mas, ao mesmo tempo, eliminou o limite de dois mandatos imposto ao chefe de Estado.]
Em 2006, Yoweri Museveni foi eleito Presidente pela terceira vez. A palavra-chave, dizia, era “resistência”.
"É uma questão de luta. Estou em luta desde 1971. Esperam que eu desista agora, a meio da luta? Agora continuamos a lutar, não no mato, mas no Governo.”
Yoweri Museveni levou o Uganda a subir ao palco do combate ao terrorismo no continente africano, com inimigos claros como o Exército de Resistência do Senhor – que invadiu as províncias do norte do país, em 1980 - e os extremistas islâmicos somalis da Al-Shabab.
Ugandeses descontentes com o desenvolvimento do país
Nos últimos anos, o Presidente ugandês tem também assumido o papel de mediador de conflitos, na República Democrática do Congo e no Burundi. Mas esta aparência de pacifista, diz Mareike Le Pelley, da Fundação Friedrich Ebert, serve para mascarar os problemas internos.“A desilusão está a aumentar. O Uganda tem uma população muito jovem que quer empregos e não os tem. 78% dos ugandeses têm menos de 30 anos, 57% tem menos de 15. Se não houver soluções em breve, o descontentamento vai continuar a aumentar”.
Quanto às liberdades políticas e civis, pouco resta do optimismo de há 30 anos atrás. A imprensa nacional é cada vez menos livre. E a repressão aos homossexuais no Uganda tem sido notícia nos últimos anos, com um debate político em curso para aprovar uma lei anti-homossexualidade.
Um balanço que não deixa antever muitas felicitações a Museveni no 30º aniversário da Presidência.