Um ano sem Daviz Simango, "alicerce da oposição"
22 de fevereiro de 2022A morte há um ano de Daviz Simango, o fundador do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), apanhou muita gente de surpresa. Ele foi vítima de uma paragem cardíaca a 22 de fevereiro de 2021, na África do Sul, onde se encontrava em tratamento.
José Lobo, membro do partido MDM, lembra-se bem do dia em que recebeu a notícia e conta que foi um duro golpe. "Os nossos adversários políticos sabiam quem era Daviz Simango, tinha granjeado simpatia, quer na RENAMO como na FRELIMO".
Simango era membro do Conselho de Estado e tinha "todas as oportunidades" para apresentar várias problemas que afetavam "toda a sociedade moçambicana", acrescenta Lobo.
"Sonhávamos que um dia Daviz seria o Presidente deste país", desabafa.
Simango, "sempre na liderança"
O MDM só conhecera Daviz Simango na liderança desde que o partido foi criado, em 2009. Em dezembro passado, Lutero Simango sucedeu ao irmão como presidente da força política, com 87,9% dos votos.
No seu discurso de vitória, Lutero Simango reafirmou que o MDM é a chave para o fim da "bipolarização" política do país, entre os simpatizantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
O historiador Laurindo Verde diz, no entanto, que o MDM não parece o mesmo desde a morte de Daviz Simango.
"Nota-se um vazio de Daviz, como pessoa e como um representante máximo e fundador de um partido político. Há a ausência de um indivíduo que tinha um sentido de Estado", explica.
"Partido-família"
E houve críticas à eleição de Lutero Simango, irmão de Daviz. Quando ele foi eleito presidente do MDM, em dezembro, o segundo candidato mais votado – Silvério Ronguane – disse que estava "disponível para liderar a oposição dentro do partido".
Na altura, os críticos da candidatura de Simango pediam para o MDM não se tornar um "partido-família". Mas, segundo José Lobo, membro e antigo parlamentar do partido, desavenças internas são algo normal numa democracia.
"Naturalmente, mesmo numa família, quando o pai morre, os filhos querem dividir os bens; cada um quer tirar a sua parte e todos querem governar, mas não é bem assim", afirma.
Mas o historiador Laurindo Verde sublinha que Daviz Simango era um "alicerce da oposição", que fica a fazer falta na democracia moçambicana.
"Foram-se os alicerces da oposição em Moçambique, que conhecemos durante muito tempo. Um deles era Afonso Dhlakama, e mais tarde, apareceu uma outra figura: Daviz Simango", recorda o historiador.
Laurindo Verde espera agora "que surja outra figura preocupada com a manutenção da democracia, [algo] que parece ausente depois da morte de Dhlakama e Simango", conclui o historiador.