Velório de José Eduardo dos Santos em Luanda sem jornalistas
26 de agosto de 2022Nem cortejo fúnebre, nem imprensa. O programa das exéquias arrancou esta sexta-feira (26.08), mas sofreu alterações e está a decorrer sem a presença de jornalistas. "A imprensa não está permitida", disse um agente da segurança do Estado à DW, na estrada da residência oficial de José Eduardo dos Santos (JES).
Na cerimónia de hoje apenas é permitida a participação da família e do público. Sem cobertura jornalística. "Estamos num país de ordens superiores", justificou o agente.
Nas exéquias são aguardados vários chefes de Estado de África e outras partes do mundo, entidades nacionais e internacionais e também cidadãos que deverão prestar homenagem a José Eduardo dos Santos, que governou Angola de 1979 a 2017 e morreu a 8 de julho, aos 79 anos, em Barcelona, Espanha, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, viaja esta noite para Angola para representar Portugal no funeral de Eduardo dos Santos.
Marcelo escusou-se hoje a comentar os resultados eleitorais em Angola, já que o processo "ainda está em curso", mas disse que terá oportunidade de falar com protagonistas da situação política.
Durante o funeral, no próximo domingo (28.08), em Luanda, a urna com os restos mortais de JES será depositada num sarcófago construído pelo Governo angolano no Memorial António Agostinho Neto.
Disputa entre fações da família
O corpo do ex-Presidente angolano chegou a Luanda no sábado (20.08), oriundo de Barcelona, após uma disputa entre duas fações da família sobre a guarda dos restos mortais.
Quatro filhos de José Eduardo dos Santos pediram esclarecimentos à Justiça espanhola sobre as circunstâncias da entrega do corpo do pai à viúva e da trasladação do cadáver para Angola sem o seu conhecimento prévio.
Os filhos mais velhos dizem que souberam pelos meios de comunicação que alegadamente o corpo foi entregue a Ana Paula dos Santos, apesar de haver diligências em curso na Justiça espanhola.
A última foi um pedido dos filhos mais velhos para haver uma cerimónia em Barcelona antes da trasladação do corpo, alegando que não podiam ir ao funeral em Luanda por "correrem risco de vida" em Angola.
A Justiça espanhola concluiu que José Eduardo dos Santos morreu de causas naturais e determinou a entrega do cadáver à viúva.
O funeral está marcado para este domingo, 28 de agosto, quatro dias após as eleições gerais, o que, segundo os filhos, confirma o objetivo de utilização política do corpo do pai.