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Violência intensifica-se na República Democrática do Congo

AP | AFP | cvt
28 de novembro de 2019

Subiu para 19 o número de mortos no mais recente ataque de elementos suspeitos de pertencerem às Forças Democráticas Aliadas no leste da RDC. Protestos contra a inação da missão das Nações Unidas continuam.

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Demokratische Republik Kongo | Überfall auf UN-Lager in Beni
Foto: Reuters/File Photo/O. Oleksandr

"A Missão de Manutenção da Paz da ONU no local informou que 19 pessoas foram mortas num novo ataque perpetrado por elementos suspeitos de pertencerem às Forças Democráticas Aliadas, (ADF), em Maliki, noroeste da aldeia de Oicha", afirmou Stephane Dujarric, porta-voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.

A mesma responsável afirma que a segurança foi reforçada na região, tendo a "Brigada da Força de Intervenção da ONU [que pertence à MONUSCO] enviado uma equipa de reação rápida ao terreno em articulação com as Forças Armadas Congolesas".

Segundo o Grupo de Pesquisa do Congo (CRG, na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos, este novo massacre elevou para 99 o número de civis mortos por grupos armados na área de Beni desde 5 de novembro, altura do lançamento de uma ofensiva pelo exército congolês contra a ADF, uma milícia de origem ugandesa.

Entretanto, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou esta quinta-feira (28.11), no Twitter, que grupos armados atacaram e mataram profissionais de saúde a trabalhar no combate ao ébola no leste da RDC. O responsável não adiantou quantas pessoas foram mortas nos ataques nas minas Biakato e em Mangina.

Protestos violentos

Os constantes ataques das Forças Democráticas Aliadas provocaram protestos violentos contra a MONUSCO, missão de paz das Nações Unidas no país, que fizeram já, desde sábado (23.11), sete mortes. Os manifestantes acusam as autoridades e a MONUSCO de não os protegerem.

Demokratische Republik Kongo | Überfall auf UN-Lager in Beni
Manifestantes invadiram campo de missão de paz da ONU, em BeniFoto: picture-alliance/dpa/0AP Photo/A.-H. K. Maliro

O Comité Internacional da Cruz Vermelha apelou à calma e à contenção na região e confirmou estar a tratar de 27 pessoas que ficaram feridas nas "manifestações dos últimos dias".

Entretanto, um porta-voz da sociedade civil acusou a polícia congolesa de matar três manifestantes e responsabilizou os capacetes azuis pela morte de outros quatro durante tentativas de dispersar as multidões.

Perante as acusações, a MONUSCO disse, esta quarta-feira em Kinshasa, estar a investigar as evidências. "Os elementos que temos indicam que foram os capacetes azuis os responsáveis pela morte de um jovem" esta terça-feira, disse um porta-voz à agência de notícias AFP. Já em comunicado, a MONUSCO, citando a chefe da missão, Leila Zerrougui, acrescenta que o homem "foi alegadamente morto em confronto com os capacetes azuis, quando estava prestes a lançar uma bomba de gasolina".

RDC: Dezanove mortos em ataque no nordeste do país

Ainda ao longo do dia de quarta-feira (27.11), ativistas do grupo de justiça social LUCHA reuniram-se em Goma junto a um acampamento da MONUSCO, em protesto contra a morte de um dos seus membros em Beni.

"Cabe à MONUSCO escolher entre proteger os civis ou ir embora. Porque a MONUSCO tem a missão de atacar todas as forças negativas. Se não o quer fazer só tem de se retirar, porque precisamos de paz. Não precisamos de pensar que temos uma força de segurança, uma força que deve ajudar as nossas forças armadas nacionais a manter a segurança, mas que está aqui para proteger apenas os seus funcionários e não para proteger a população civil da RDC", afirmou Espoir Ngalukiye, membro do LUCHA.

Nas cidades de Beni e Butembo, a situação mantém-se calma. Segundo o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, Stephane Dujarric, "o representante especial adjunto da Missão da ONU e o comandante da Força de Intervenção estiveram em Beni, onde se reuniram com a liderança militar congolesa para discutir uma maior cooperação entre as forças de manutenção da paz da ONU e o Exército Congolês".

Esta segunda-feira (25.11), uma multidão invadiu um dos dois acampamentos da ONU perto de Beni e incendiou um dos seus escritórios.

Separadamente, um estudante foi ferido e 10 outras pessoas foram presas na quarta-feira, quando a polícia congolesa dispersou uma manifestação, no exterior da universidade em Goma. "A nossa manifestação é patriótica. A MONUSCO está à margem dos massacres, quando a sua principal missão é proteger os civis", disse um estudante de direito Fiston Muhindo à AFP.

Demokratische Republik Kongo | Überfall auf UN-Lager in Beni
População acusa MONUSCO de não a proteger Foto: Reuters/File Photo/O. Oleksandr

"Eles têm que ir embora. A MONUSCO não serve para nada", acrescentou o também estudante de direito, Junior Mastaki.

Problemas com a MONUSCO

Segundo os investigadores do Grupo de Pesquisa do Congo, as Forças Democráticas Aliadas já mataram mais de mil civis desde outubro de 2014.

A MONUSCO, uma das maiores operações de manutenção da paz da ONU no mundo, conta hoje com mais de 16.500 militares e observadores, 1.300 polícias e pelo menos 4.000 civis.

Mas tem lutado para progredir em um vasto país assolado por grupos armados, bem como pela pobreza arraigada e pela má governação.

Respondendo às críticas às suas falhas, a MONUSCO tem indicado que as suas tropas não podem entrar em combate sem a aprovação do país anfitrião e sem uma coordenação com as forças nacionais.

Na segunda-feira, as forças armadas congolesas disseram à AFP que haviam tomado "todas as fortalezas e quartéis-generais (das ADFs)" nas florestas das redondezas de Beni. No mesmo dia, o gabinete do Presidente anunciou que a RDC e as forças de manutenção da paz da ONU lançariam "operações conjuntas" para reforçar a segurança em Beni, e que o exército congolês estabeleceria um "quartel-general " na cidade.