Vítimas da violência pós-eleitoral refugiam-se no Malaui
3 de janeiro de 2025
Ellen Kaosa faz parte dos cerca de 13.000 moçambicanos que procuraram refúgio no distrito de Nsanje, na fronteira sul do Malaui. À DW, conta que juntamente com a sua família abandonou Moçambique no dia 23 de dezembro, dia da validação dos resultados das eleições gerais pelo Conselho Constitucional (CC).
Desde lá, está acomodada no Campo de Deslocados de Tengani. "Aqui falta um pouco de tudo", relata à DW a refugiada com lágrimas no rosto: "Não temos nada para comer, tenho filhos e há mulheres grávidas, idosos e pessoas com deficiência. Não temos tendas para nos acomodar, por isso estamos a passar por grandes dificuldades”.
Raimundo Comando é outro refugiado moçambicano no Campo de Deslocados de Tengani. Confirma a falta de condições naquele centro: "Não temos também casas de banhos, água corrente e redes mosquiteiras, pedimos as autoridades malauianas que nos ajudem porque estamos a sofrer”.
O Governo do Malaui reconhece a gravidade da situação, mas o país também se encontra numa situação de escassez de alimentos por causa dos efeitos do fenómeno El Ninõ.
Moçambique chamado a agir
Malita Banda, residente em Nsanje, diz que para poder ajudar os refugiados que acabam de chegar de Moçambique, o Governo malauiano teria de aumentar o seu orçamento, o que está longe de acontecer, por isso deixa um apelo:
"O Governo moçambicano deve fazer algo urgentemente para que estas pessoas regressem às casas, onde possam encontrar a sua sobrevivência diária”.
Ativistas de direitos humanos instam o Malaui e a comunidade internacional a dar prioridade ao bem-estar das crianças, mulheres, idosos e das pessoas com deficiência.
As autoridades malauianas garantem que estão a trabalhar com a agência das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR) para avaliar as necessidades de apoio humanitário das pessoas que fogem de Moçambique.
Moses Mkandawire, diretor do Nyika Institute, apela a Moçambique, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e outras partes a trabalharem em conjunto para promover o diálogo "para garantir que Moçambique volte a ser um país de reconciliação e paz”.
Para além de Malaui outros cerca de 1000 moçambicanos terão atravessado a fronteira para o Essuatíni.