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África do Su: Deportações em massa em plena pandemia

Milton Maluleque (Joanesburgo) | mc
12 de maio de 2020

África do Sul deportou centenas de moçambicanos e zimbabueanos que se encontravam em Lindela. País é o mais afectado pela Covid-19 na África subsaariana. Especialistas alertam para violação de protocolos sanitários.

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Südafrika - Lindela Repatriation Center
Centro de Repatriamento de Lindela (arquivo)Foto: GIANLUIGI GUERCIA/AFP/Getty Images

No total, o Ministério do Interior sul-africano procedeu ao repatriamento de cerca de 977 imigrantes ao longo do último fim de semana, dos quais 439 são moçambicanos e 538 de nacionalidade zimbabueana que se encontravam no Centro de Repatriamento de Lindela.

Estas deportações em massa, que ocorreram de uma forma apressada, foram causadas pela violência que eclodiu no Centro de Repatriamento de Lindela, há uma semana, e que facilitou a fuga de 37 imigrantes ilegais.

A violência foi originada pela greve dos funcionários que recusavam trabalhar sem material de proteção contra a Covid-19 neste centro de trânsito de imigrantes sem documentos. Segundo o Ministério sul-africano do Interior, estas deportações foram aceleradas mediante consultas com as Embaixadas de Moçambique e do Zimbabué.

Egna Sidumo, pesquisadora e docente da Universidade Joaquim Chissano em Maputo, caracteriza esta medida como legítima, embora questione o seu fundamento.

"Penso que este é um desafio para Moçambique e um desafio para as autoridades sanitárias, mas também para as autoridades diplomáticas que a partir desta altura têm uma grande responsabilidade no sentido de mapearem e encontrar eventualmente mais moçambicanos que tenham o interesse de voltar a Moçambique e que possam ser registados e monitorados pelas autoridades de saúde," considera.

Deportações violam protocolos

O Centro de Repatriamento de Lindela é o local onde se encontram imigrantes sem documentos que aguardam pela determinação do seu estatuto legal no país ou pela sua deportação. Hélio Guiliche, académico moçambicano, defende que as deportações em plena pandemia de Covid-19 violaram protocolos de saúde.

"Vale a pena lembrar que eles estão a sair de um país que é gravemente assolado e que provavelmente possa um e outro estar infetado", sublinha.

"Dada a sua condição de baixa renda e de poucas condições económicas, eles não vão necessariamente passar por uma testagem voluntária. Então, as autoridades devem tomar conta disto e procurar, junto das autoridades sul-africanas, clarificar", avalia.

Controlo nas Fronteiras

A África do Sul é o país mais afectado pelo coronavírus na África subsaariana. Estas deportações acontecem numa altura em que o número de infetados pela Covid-19 aumentou em Mocambique.

Com novos focos de infeção que incluem agora Inhambane e Sofala, Sidumo pensa "que Moçambique deve começar a ser um pouco mais sério no controlo da movimentação das pessoas, especificamente estas que atravessaram a fronteira".

A pesquisadora da Universidade Joaquim Chissano lembra que "não podendo o país recusar a entrada de cidadãos nacionais, deve redobrar os seus esforços no sentido de garantir que essas pessoas são controladas e que não vão ser um novo foco de infeção nas suas áreas de origem".

A África do Sul regista esta terça-feira (12.05) um total de 11.350 casos positivos de Covid-19, sendo  a província do Cabo Ocidental o epicentro da doença no país com cerca de 484 novos casos de infeção.

Refira-se que o Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, em sua carta semanal, disse que o país deve estar preparado para viver com este vírus por um ou dois anos.

Covid-19: O desespero dos sem-abrigo na África do Sul