A maior rebelião da era Merkel
15 de junho de 2018Dois líderes do conservadorismo na Alemanha entram em rota de colisão devido à política para refugiados do governo, numa disputa que provoca uma das piores crises enfrentada pela chanceler federal alemã, Angela Merkel.
O opositor é seu ministro do Interior, Horst Seehofer, crítico da postura liberal da chefe de governo em relação aos refugiados e defensor do endurecimento do controle das fronteiras. De um lado está a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, do outro, a aliada bávara União Social Cristã (CSU), liderada por Seehofer.
O político da Baviera exige, como parte de um novo "plano condutor para a migração", que as forças de segurança nas fronteiras alemãs tenham o poder de recusar a entrada de refugiados sem documentos de identidade ou que já estejam registrados em outros países da União Europeia. Já Merkel rejeita a ideia, temendo que Bruxelas enxergue a medida como um ato unilateral de Berlim.
Nesta segunda-feira (18/06), Seehofer se reúne com a liderança da CSU em Munique, onde deve anunciar a instituição de controles de fronteira com base em sua autoridade como ministro do Interior. Se isso acontecer, Merkel enfrenta a difícil escolha entre recuar, desautorizar ou até mesmo demitir Seehofer.
Em certo sentido, trata-se de um conflito sobre a política de migração. Mas, em nível mais profundo, nada mais é do que uma luta pelo controle do conservadorismo na Alemanha.
O também presidente da CSU Seehofer e o governador do estado da Baviera, Markus Söder, podem argumentar que políticas mais rígidas de migração são uma necessidade, se a CSU quiser preservar sua maioria absoluta nas eleições regionais bávaras de outubro. Mas os muitos conservadores da Baviera e de outros países também estão insatisfeitos com a postura acolhedora de Merkel em relação aos migrantes e se irritam com o predomínio político da premiê.
Ameaça funcionou no passado
Seehofer supostamente teria ameaçado usar sua posição como ministro do Interior para deliberar sobre controles de fronteira, se necessário, apesar da oposição de Merkel, mesmo antes do impasse de quinta-feira.
Merkel teria pedido prazo de duas semanas, na esperança de poder negociar uma alternativa aceitável, talvez através do pedido de reforço da agência europeia de proteção de fronteiras e litorais Frontex quando os líderes da UE se reunirem em Bruxelas em 28 e 29 de junho. Mas até agora não há sinais de que a CSU esteja disposta a dar a Merkel a margem de manobra que ela deseja.
Por mais contenciosa que a atmosfera seja, ainda não é o pior teste de força entre os dois partidos conservadores da Alemanha. Em 1976, a CSU sob seu então presidente Franz Josef Strauss tentou derrubar Helmut Kohl da chefia da CDU, ameaçando se retirar da bancada parlamentar bipartidária.
Mas essa tentativa de independência da CSU não durou muito tempo. Em resposta, Kohl ameaçou estabelecer uma filial da CDU na Baviera. A presença de outro partido conservador quase certamente privaria a CSU de sua tradicional maioria absoluta no maior estado da Alemanha.
Esperança de final feliz
Strauss, querendo evitar que seu rival da CDU se tornasse chanceler federal, cedeu, e seis anos depois Kohl se tornaria o chefe de governo da Alemanha Ocidental. Merkel espera que esse cabo de guerra acabe com um desenlace igualmente positivo para ela.
Sócios menores da grande coalizão governista de Merkel, os social-democratas do Partido Social-Democrata (SPD), não estão vendo com bons olhos a luta pelo poder no campo conservador.
"Temos acordos muito amplos sobre os refugiados em nosso contrato de coalizão", disse a presidente do SPD, Andrea Nahles. Ela apelou aos conservadores para porem fim às brigas internas "o mais rápido possível", atribuindo a desarmonia às eleições regionais da Baviera em outubro.
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