A resposta do Brasil à crise na Venezuela é adequada?
17 de junho de 2015A Venezuela passa por uma forte crise política há mais de um ano. O governo do presidente Nicolás Maduro tem agido duramente contra as vozes críticas. Vários líderes da oposição foram presos, acusados de incitação à violência em protestos e de conspirar para depô-lo. Organizações de direitos humanos afirmam que as detenções têm motivação política.
Nesse cenário, o governo brasileiro segue a tradicional postura de não intervenção em assuntos internos de outros países. "Nós não somos golpistas no Brasil, nós não somos a favor de interferências e intervenções dentro de países irmãos", afirmou Dilma Rousseff em entrevista à DW Brasil.
A postura cautelosa da presidente tem sido alvo de críticas no Congresso Nacional. Enquanto o governo mantém o tom conciliador, parlamentares brasileiros assumiram uma posição mais contundente: nesta quinta-feira (18/06) senadores do PSBD e do DEM, liderados por Aécio Neves, vão a Caracas em um avião da Força Aérea Brasileira prestar apoio aos oposicionistas presos e pressionar o governo para marcar eleições.
Para analistas ouvidos pela DW Brasil, o governo tem suas razões para agir com prudência em relação à crise política venezuelana. Na opinião de Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, manter-se neutro dá ao Brasil legitimidade para atuar como mediador no conflito.
"O grande desafio em relação à Venezuela não é dizer quem está certo e quem está errado, mas viabilizar uma situação para que o país possa se estabilizar, política e economicamente", afirma, ressaltando que o governo de Maduro foi eleito democraticamente e precisa ser respeitado como tal.
O limiar para interferir nas questões internas de outros países é muito tênue, diz Thiago Gehre Galvão, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). "Qualquer tipo de declaração dada pode gerar sensibilidade no governo vizinho."
Venezuela como arena para disputa interna
A iniciativa do Senado é positiva, consideram os especialistas, por mostrar que existe uma preocupação de vários setores da sociedade com a crise venezuelana. Eles alertam, porém, que a situação no país vizinho pode acabar sendo instrumentalizada em uma disputa política que pouco tem a ver com a Venezuela em si.
"Os senadores continuam atacando o governo brasileiro, agora no campo da política exterior. Querem pressionar para que o governo se expresse de maneira firme em um conflito que requer certa sensibilidade", diz Thomas Manz, representante no Brasil da Fundação Friedrich Ebert – ligada ao Partido Social Democrata (SPD) alemão. "Essa viagem é voltada para o Brasil, para marcar uma diferença de posições com o governo, não está muito relacionada à busca de uma solução concreta para o conflito na Venezuela", afirma.
Apesar de concordar que a diplomacia brasileira esteja no caminho certo, Stuenkel acredita que o governo poderia fazer mais. "O Brasil tem potencial para uma maior atuação do que a exercida neste momento." Segundo o especialista, o governo deveria usar sua influência como potência regional para pressionar o governo venezuelano a convocar eleições transparentes e garantir um julgamento justo para os presos políticos. Além disso, Stuenkel acredita que Dilma poderia trabalhar para dissuadir a oposição de tentativas de golpe.