Leopoldo López, o rebelde burguês
29 de maio de 2015A divulgação de um vídeo do líder opositor venezuelano Leopoldo López, gravado na prisão em que ele está, em Caracas, provocou furor no país. Em poucos dias, a gravação divulgada no Twitter por Lilian Tintori, mulher de López, foi clicada por milhões de pessoas. O oposicionista está desde fevereiro de 2014 na prisão militar de Ramo Verde, no subúrbio da capital venezuelana.
López é acusado pelo governo do presidente Nicolás Maduro de incitação à violência durante os protestos realizados no ano passado. O oposicionista se tornou algo como a resposta burguesa à chamada "revolução bolivariana", iniciada pelo ex-presidente Hugo Chávez. E, não importa o que as poderosas instituições venezuelanas tentem, elas não conseguem calar esse ex-prefeito da cidade de Chacao, na região metropolitana de Caracas.
Resistencia, um termo em espanhol que está muito mais associado aos movimentos de esquerda na América Latina, sintetiza a atitude de López. E o governo de Maduro simplesmente não consegue encontrar uma resposta adequada a essa situação.
López se transformou numa espécie de rebelde burguês para todos os venezuelanos que não simpatizam com os socialistas que ocupam o poder desde 1999. Da sua cela na prisão, ele convocou a população a ir às ruas em protesto contra o governo neste sábado (30/05). Tintori, sua mulher, fez o mesmo apelo, ao lado das mulheres de outros opositores políticos presos.
"Quem não for para as ruas, não quer eleições", afirmou Tintori. Os manifestantes devem vestir camisetas brancas e não levar cartazes. "Não queremos deixar lixo para trás", explicou, em entrevista à DW. Em vez disso, as pessoas devem carregar rosários.
López iniciou uma greve de fome para forçar o Conselho Nacional Eleitoral a marcar as eleições parlamentares. Pelas atuais pesquisas, elas dariam início a uma mudança política na Venezuela, só que ainda não há uma data marcada. A oposição suspeita que o governo esteja adiando ao máximo a realização do pleito para ter mais chances de vitória.
A chamada para o protesto é sobretudo um ato simbólico, e não foi combinado com a aliança Mesa da Unidade Democrática (MUD), formada pelos partidos de oposição. Os políticos da aliança se sentiram passados para trás. O líder da MUD Henry Falcón alertou para possíveis distúrbios gerados pelo clima polarizado das manifestações e anunciou que, por isso, não vai participar.
Adversário perigoso para Maduro
López se tornou o principal adversário de Maduro. O oposicionista tem trunfos que o socialista não tem. Ele é bom de retórica, foi premiado pela Transparência Internacional por comandar uma das prefeituras mais transparentes e eficientes da Venezuela e é descendente direto de Simón Bolívar, um dos maiores líderes do processo de independência da América Latina e ídolo justamente dos chavistas.
Os adversários de López desmerecem todas essas qualidades. Mas o índice de popularidade dele tem aumentado desde que foi preso. Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, disseram que a detenção tem motivações políticas, assim como o Nobel da Paz, Oscar Arias, da Costa Rica.
Nada disso impressionou o sistema judiciário venezuelano. O processo segue lento, e mesmo 15 meses depois da prisão, ainda não há um veredicto sobre López. Maduro declarou nesta semana que a campanha legal contra a "direita fascista" ainda não terminou e anunciou que todos acabarão na cadeia.
Mas parece que o regime de Maduro se enganou na avaliação de seu principal rival político. Tentativas de enviar López para o exterior por meio de uma troca de prisioneiros falharam. O político se mostra um homem de convicção que, apesar de vir de uma família rica, prefere estar na prisão a usufruir o conforto de uma residência de luxo em Miami. É impossível saber quanto tempo ele aguentará atrás das grades, ainda não é possível prever. Mas a mulher dele já afirmou: "Leopoldo nunca vai sair da Venezuela."