Os tropeços que derrubaram a ministra da Defesa da Alemanha
16 de janeiro de 2023A ministra da Defesa da Alemanha, Christine Lambrecht, anunciou formalmente sua renúncia nesta segunda-feira (16/01). A mídia alemã já havia informado na sexta-feira que ela deixaria o cargo após uma onda de críticas devido à postagem nas mídias sociais na véspera de Ano Novo.
Em vídeo divulgado em seu perfil no Instagram, Lambrecht faz um pronunciamento citando a guerra na Ucrânia enquanto fogos de artifício explodem ao fundo. Membros do partido conservador de oposição União Democrata Cristã (CDU) chamaram a mensagem de insensível e pediram que ela renunciasse. Lambrecht é do Partido Social-Democrata (SPD), o mesmo do chanceler federal alemão, Olaf Scholz.
"O vídeo mostra claramente mais uma vez que ela é a pessoa errada neste posto vital – e isso nestes tempos de guerra na Europa", disse a vice-líder da bancada parlamentar conservadora, Serap Güler, enquanto o líder da mesma bancada, Johann Wadephul, chamou o vídeo de "perturbador".
"Constrangedor", "bizarro" e "inapropriado" foram outros termos usados para comentar a postagem. No Twitter, a ministra subiu à liderança dos trending topics, enquanto a popularidade dela despencava.
"Constrangedor, bizarrro"
A ministra deixou o cargo criticando a imprensa. "Os meses de foco da mídia em minha pessoa quase não permitem uma cobertura sóbria e debates sobre as soldadas e os soldados, a Bundeswehr e as decisões de política de segurança no interesse dos cidadãos da Alemanha", escreveu Lambrecht. "O valioso trabalho das soldadas e soldados e das tantas pessoas motivadas do setor deve estar em primeiro plano. Por isso, resolvi colocar meu cargo à disposição."
Há meses, Lambrecht vinha sendo alvo de críticas, seja por suposta lentidão no processo de aquisição de novos equipamentos para as Forças Armadas alemãs ou por sua alegada falta de experiência no setor.
Lambrecht assumiu o Ministério da Defesa no final de 2021, juntamente com os outros ministros do novo governo alemão, liderado por Scholz. Anteriormente, ela havia sido ministra da Justiça no último gabinete de Angela Merkel e também chefiou o Ministério da Família.
Suas aparições em público também foram motivo de desaprovação. Em abril passado, durante uma visita a tropas no Mali, a ministra apareceu usando sapatos de salto alto, o que provocou críticas de militares e da mídia, já que soldados não se sentiram levados a sério e porque Lambrecht violou regras de segurança com o uso dos sapatos.
Dias depois, seu filho postou uma foto dele com a mãe viajando num helicóptero da Bundeswehr. Lambrecht o levou numa visita oficial a uma unidade de militares no norte da Alemanha e depois viajou com ele para tirar férias em família em Sylt, na mesma região. Do ponto de vista jurídico, analistas não viram problemas na viagem privada, segundo a mídia alemã. Do ponto de vista comunicacional, foi um desastre para Lambrecht devido às manchetes negativas.
Escárnio por doação de capacetes à Ucrânia
Um dos últimos episódios a lançar uma sombra sobre a gestão de Lambrecht ocorreu em dezembro, após a revelação de graves falhas técnicas em 18 unidades do moderno vaículo de combate de infantaria Puma durante um exercício de treinamento do Exército alemão.
A situação causou alvoroço no Ministério de Defesa, entre outros motivos porque os veículos estavam com envio agendado para participar da Força-Tarefa Conjunta de Elevada Prontidão (VJTF) da Otan.
O desastre ocorreu após uma série de notícias negativas sobre o estado das Forças Armadas da Alemanha informando que o estado do equipamento da Bundeswehr há muito é motivo de preocupação: nos últimos anos, surgiram várias notícias sobre tanques e helicópteros que precisavam de reparos, fuzis que falhavam em clima quente e soldados tendo que treinar no frio sem roupas íntimas térmicas. Críticos apontavam um "sucateamento militar" no país.
Em janeiro, quando começava a discussão sobre o apoio militar à Ucrânia, Lambrecht convocou uma coletiva de imprensa para anunciar orgulhosamente que a Alemanha entregaria 5 mil capacetes militares a Kiev. O eco foi devastador. O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, afirmou publicamente que aquilo era uma "piada". A revista Focus tachou o anúncio de "vergonha", o jornal Berliner Morgenpost chamou a declaração de "ridícula". A tal entrega acabou se tornando um símbolo internacional da forma vacilante como a Alemanha age em relação ao apoio à Ucrânia.
md/rk (ots)