Crise chega à Alemanha
29 de setembro de 2008Numa ação de salvamento que teve contornos dramáticos, o governo alemão e um grupo de bancos privados disponibilizaram na madrugada desta segunda-feira (29/09) 35 bilhões de euros para impedir a quebra do banco alemão Hypo Real Estate (HRE), especializado em financiamentos imobiliários.
O governo alemão colocou 26,5 bilhões de euros à disposição e os bancos, 8,5 bilhões de euros. O Ministério alemão das Finanças afirmou que a quebra da instituição custaria muito mais do que esse valor para a economia alemã. O governo alemão disse que a medida impedirá que a crise financeira mundial se espalhe pela Alemanha.
Segundo o porta-voz do governo Ulrich Wilhelm, o dinheiro se destina exclusivamente ao salvamento do Hypo Real Estate – nenhum outro banco alemão estaria em perigo. Ele disse ainda que a estatização do banco é descartada pelo governo. A Bafin, autoridade de supervisão financeira alemã, e o Bundesbank asseguraram que, com o pacote de última hora, o refinanciamento do banco está garantido até o final de 2009.
Crise se espalha pela Europa
A crise bancária originada nos Estados Unidos chegou com força à Europa. Os governos da Bélgica, da Holanda e de Luxemburgo compraram 49% do banco Fortis por 11,2 bilhões de euros. O Fortis é uma das maiores instituições financeiras da Bélgica e da Holanda e emprega em torno de 65 mil pessoas.
No Reino Unido, o Bradford & Bingley, o oitavo maior banco britânico, será estatizado. O governo assumirá a carteira de hipotecas, avaliada em 50 bilhões de libras. Para sanear a instituição e revender a rede de agências ao banco Abbey (do grupo espanhol Santander), o Ministério britânico das Finanças disponibilizou 14 bilhões de libras.
Na Islândia, o governo assumiu o controle de 75% do banco Glitnir Bank pelo valor de 600 milhões de euros. Na Dinamarca, três instituições financeiras vão assumir o controle do Roskilde Bank. Para acalmar a situação, o Banco Central Europeu injetou mais 120 bilhões de euros no mercado financeiro da zona do euro.
Bolsa de Frankfurt
Na manhã desta segunda-feira, as ações do Hypo Real Estate – uma das 30 companhias listadas no índice DAX, da Bolsa de Valores de Frankfurt – caíram até 75%. Elas permaneceram em baixa ao longo do dia e fecharam com desvalorização de 73,9%.
De acordo com operadores, uma queda tão acentuada em papéis de uma das 30 maiores companhias listadas é inédita na história da Bolsa de Frankfurt. Analistas não descartam que o banco seja cortado do DAX.
A crise do HRE teve reflexos no índice DAX, que fechou em queda de 4,23%, em 5.807,08 pontos. "Tudo o que tem a palavra banco no nome está em queda", disse um operador. Ações do Commerzbank e do Postbank caíram mais de 20%.
Origem da crise do HRE
Culpado pela quase quebra do HRE é o banco de financiamento irlandês Depfa, adquirido pela instituição alemã em outubro passado por 5 bilhões de euros. O Depfa é especializado em empréstimos para o setor público, os quais permitem a governos federais, estaduais ou municipais construir estradas, escolas e aeroportos, por exemplo.
Parte da carteira de crédito a longo prazo do Depfa é refinanciada pelo banco com empréstimos de curto prazo, obtidos em outros bancos. Esse valor é de cerca de 50 bilhões de euros por ano. Com a crise financeira, a instituição passou a ter dificuldades cada vez maiores para obter dinheiro de outros bancos, o que levou à atual situação.
Reunião madrugada a dentro
As negociações para salvar o banco HRE duraram dias e se encerraram apenas na madrugada desta segunda-feira, quando se tornou público que a instituição necessitava de ajuda para escapar da falência. As reuniões envolveram representantes da Bafin, do Ministério das Finanças e dos bancos privados.
Segundo a declaração de um dos negociadores à agência de notícias DPA, o objetivo era encontrar uma solução até o início da manhã desta segunda-feira. "Se não conseguíssemos, teríamos um sério problema." A notícia da quebra iminente do HRE espalharia o pânico no mercado financeiro alemão e levaria a uma corrida de correntistas aos bancos.