Mercado de trabalho
16 de dezembro de 2010Em contraste com outros países europeus, a economia alemã está crescendo a níveis recordes depois da crise. Entretanto, os salários dos trabalhadores do país caíram.
Enquanto nos últimos dez anos os salários aumentaram cerca de 25%, em média, na maioria dos países industrializados, o salário real médio na Alemanha encolheu. Com isso, os alemães tinham dez anos atrás 4,5% a mais de dinheiro à sua disposição do que hoje. Isso ficou evidente a partir dos números apresentados nesta quarta-feira (15/12) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Embora tenha havido um aumento real dos salários em outros países nos últimos dez anos, a crise econômica afetou fortemente esse crescimento. Enquanto em 2006 e 2007 os trabalhadores do mundo todo tiveram, em média, até 2,8% a mais de salário em seus bolsos, nos dois anos posteriores, marcados pela crise, eles tiveram apenas cerca de 1,5% a mais.
Na opinião da OIT, a conta da crise econômica mundial foi paga sobretudo pelos trabalhadores. E isso se reflete também no número de desempregados. Comparado com 2007, o número de desempregados no mundo, no ano passado, aumentou em quase 30 milhões, chegando a cerca de 207 milhões.
O preço do crescimento
Nenhuma das principais nações industriais do mundo está em situação melhor do que a Alemanha, locomotiva da economia europeia, a caminho de deixar para trás a crise econômica e financeira. Precisamente por causa de seu mercado de trabalho flexível, a Alemanha é tida como um exemplo de como se supera uma crise econômica.
Durante a crise, as empresas não demitiram seus empregados, fazendo com que eles apenas deixassem temporariamente de trabalhar ou que trabalhassem por menos horas. Parte dos salários foi complementada, então, pela agência governamental do trabalho.
Dessa forma, a taxa de desemprego pôde ser contida durante a crise, o que foi motivo de elogios por parte da OIT. Através de "instrumentos inteligentes para o mercado de trabalho" e de “um bom diálogo entre as partes” foi possível que o nível de emprego se mantivesse estável e que houvesse apenas uma ligeira diminuição dos salários, de acordo com a organização. O regime de trabalho de carga reduzida foi um "bom investimento", que evitou demissões e apoiou a demanda doméstica.
"Mercado de trabalho flexível" tem seu preço
Mas esse chamado "mercado de trabalho flexível" também tem os seus defeitos. O número de pessoas com emprego fixo e um contrato de trabalho de caráter permanente, com direito a benefícios sociais e previdenciários, tem caído nos últimos anos, mesmo considerando o período anterior à crise.
Cada vez mais pessoas dependem de trabalhos avulsos e cada vez mais pessoas ganham tão pouco que não conseguem viver apenas do seu salário. Além disso, o número de trabalhadores temporários ou terceirizados aumentou.
Essas formas de trabalho e os aumentos salariais moderados, segundo a OIT, contribuíram para a queda da média dos salários ao longo da última década. Como resultado, as empresas alemãs se tornaram mais competitivas, mas a demanda privada não foi reforçada, e o desenvolvimento do salário não acompanhou o desenvolvimento da produtividade.
Empresas lucram, trabalhadores perdem
Também em outros países, como Coreia do Sul, os EUA e o Japão, os salários não acompanham mais o crescimento da produtividade, segundo a OIT. Como resultado, as empresas aumentam seu rendimento, enquanto a renda dos trabalhadores cai. Por isso, a OIT reivindica que o desenvolvimento dos salários acompanhe o aumento da produtividade, ao mesmo tempo em que se deve combater a tendência de diminuição dos salários.
Mas volta a haver movimento na estrutura salarial. Inspirados pela forte recuperação econômica na Alemanha, os sindicatos do país aumentaram suas reivindicações salariais. Os servidores públicos reivindicam aumento de 3%, enquanto os funcionários da Telekom pedem aumento de 6,5% e os empregados das indústrias químicas exigem uma elevação de cerca de 6% em seus vencimentos.
Autora: Insa Wrede (md)
Revisão: Carlos Albuquerque