Alemanha debate colocar bandeiras nacionais em escolas
22 de novembro de 2019A União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler federal alemã, Angela Merkel, anunciou que realizará uma votação sobre se as escolas na Alemanha devem hastear a bandeira nacional do lado de fora de seus edifícios, ao lado das bandeiras do estado em que a escola se encontra e da União Europeia (UE). A iniciativa foi lançada por uma organização regional alinhada à legenda conservadora.
A moção será apresentada aos correligionários na conferência da CDU, neste fim de semana, em Leipzig, pela filial partidária que representa o estado alemão de Baden-Württemberg. Vários membros do alto escalão da CDU apoiam o plano, e muitos esperam que a moção seja adotada na política do partido.
A ideia foi lançada por uma associação regional de estudantes intitulada Schülerunion (SU), uma organização conservadora independente que possui milhares de membros em toda a Alemanha.
"Acho que é um sinal importante em momentos em que nossa bandeira nacional está sendo apropriada e denegrida por radicais de esquerda e de direita", disse Sven Fontaine, vice-presidente da direção nacional da SU, em entrevista à DW. "O ódio está sendo espalhado mais uma vez usando nossas cores nacionais. Somos um país baseado na diversidade, unidade, justiça e liberdade, e não no ódio."
Fontaine afirmou que a SU tem discutido a questão há vários anos e a adotou na política da organização em 2018. "É importante que isso aconteça nas escolas porque as escolas mediam nossos valores", argumentou. "É nas escolas em que você dá os primeiros passos em seu próprio desenvolvimento político. Vemos isso atualmente com o movimento 'Fridays for Future'."
"Se as bandeiras estão hasteadas do lado de fora das escolas, as pessoas refletem sobre o porquê de elas estarem lá e podem tirar lições sobre os valores que elas representam", acrescentou.
A moção também conta com o apoio da ala juvenil da CDU, a Junge Union (JU). Seu presidente, Tilman Kuban, disse à rede de comunicação RND que hastear bandeiras fora das escolas "também representa um sinal claro de que não permitiremos que a bandeira seja apropriada por forças que não compartilham os valores associados a ela".
A ideia foi recebida com ceticismo pelos parceiros da coalizão de governo federal, o Partido Social-Democrata (SPD), embora apenas por motivos administrativos. "Fico feliz em ver bandeiras alemãs sendo hasteadas em qualquer lugar", disse Johannes Kahrs, do SPD. "Mas as escolas são administradas pelos estados [educação na Alemanha é responsabilidade estadual, e não federal], e isso deve ser decidido em nível local."
Velha bandeira por novos tempos
Nos últimos anos, os conservadores de Merkel tentaram recuperar retoricamente as cores nacionais da Alemanha – preto, vermelho e dourado – de populistas de extrema direita que ressurgiram na política alemã.
Em 2015, quando as bandeiras nacionais foram carregadas com destaque em passeatas de extrema direita do movimento anti-imigração Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente"), o então secretário-geral da CDU Peter Tauber pediu ao partido que não deixasse as cores da Alemanha para "aqueles que espalham ódio e medo" sob a bandeira alemã.
Fontaine adotou o mesmo discurso. "Podemos ver que os alemães têm um problema com o orgulho nacional, em parte por causa da nossa história, que é importante de ser abordada", disse. "Mas deveríamos ainda assim hastear nossas cores nacionais, que antes do passado sombrio sempre representaram unidade, justiça, liberdade e dignidade humana."
A maioria dos edifícios do governo da Alemanha ostenta a bandeira nacional ao lado da bandeira da UE, e os prédios de governos estaduais têm hasteadas também as bandeiras dos respectivos estados. Mas poucos cidadãos hasteiam bandeiras da Alemanha no país, exceto durante os principais torneios internacionais de futebol.
As cores preto-vermelho-dourado da Alemanha tremularam pela primeira vez durante as guerras de libertação do país das forças de Napoleão Bonaparte, entre 1813 e 1815 – elas significavam a unidade entre os vários estados alemães. A bandeira se tornou um símbolo subversivo ao republicanismo antes de ser adotada pelo Parlamento alemão em 1848 como um paliativo a revolucionários.
A bandeira com estas cores se tornou o estandarte oficial da Alemanha em 1919, com o início da República de Weimar. Posteriormente, ela foi substituída pelo regime nazista por uma bandeira branca e vermelha com uma suástica preta, antes de ser restabelecida quando as duas Alemanhas foram fundadas, em 1949.
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