Alemanha-Polônia: complicada relação entre vizinhos
2 de dezembro de 2005A vizinha Polônia é o quarto país visitado pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, após sua posse, na semana passada. Depois das visitas de "apresentação" a Paris, Bruxelas e Londres, logo após assumir o cargo, Merkel teve em Varsóvia uma tarefa mais complicada.
As relações entre a Alemanha e a Polônia, já difíceis por razões históricas, complicaram nos últimos meses. Varsóvia reclama que não foi consultada sobre o projeto de um gasoduto teuto-russo e critica a intenção de construir um centro em memória aos desterrados em Berlim.
Reparação de guerra
Ainda na campanha eleitoral, o presidente designado Lech Kaczynski provocou Berlim com retóricas antialemãs. Ao citar a destruição de seu país pela Wehrmacht durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, sugeriu que a Polônia exija da Alemanha uma indenização de 45,3 bilhões de euros.
Outra preocupação dos poloneses é que os alemães reclamem áreas do país perdidas pela Alemanha no final da guerra. Mais um ponto de conflito é a questão orçamentária da União Européia, em que a Polônia rejeita a possível redução de subvenções regionais contida no pacote de cortes a ser apresentado pelo premiê britânico Tony Blair.
Recentemente, no entanto, Kaczynski mudou de tom e já chega a se considerar "claro defensor das estreitas relações entre a Alemanha e a Polônia". O futuro presidente polonês salientou inclusive que nem é "antialemão", mas que se sente na obrigação de defender os interesses poloneses.
Gasoduto teuto-russo no Mar do Norte
O gasoduto através do qual a Rússia fornecerá gás natural à Alemanha será construído em águas internacionais no Mar do Norte. Até agora, este transporte era feito por via terrestre, cortando território polonês e, conseqüentemente, trazia fundos aos cofres públicos de Varsóvia. Por outro lado, a Polônia teme que, no caso de uma crise com a Rússia, Moscou corte o fornecimento de gás, de que a Polônia tanto depende.
O novo primeiro-ministro polonês, Kazimierz Marcinkievicz, disse ainda antes do encontro que o assunto seria um "tema complicado" em sua agenda com Merkel. Ele reproduziu de forma diplomática o que parte da imprensa polonesa expressa de forma bem mais agressiva.
O semanário Wprost, por exemplo, chamou o acordo do gasoduto de "Pacto Putin-Schröder", numa associação que soa aos leitores poloneses como o Pacto Hitler-Stalin, de 1939, que trouxe conseqüências catastróficas ao país.
Novos impulsos
A profunda amizade entre o ex-chanceler federal Gerhard Schröder e o presidente russo, Vladimir Putin, era vista com ceticismo pela Polônia, vizinha de ambos. Neste sentido, são consideradas positivas em Varsóvia as chances de um novo governo alemão, chefiado por uma mulher.
Após o encontro em Varsóvia, Marcinkievicz declarou-se convicto de que se abriu um novo capítulo nas relações entre os dois países. Merkel, por sua vez, assegurou estar interessada num estreitamento das relações entre Alemanha e Polônia, que deveriam se voltar mais para o futuro. Mas ao mesmo tempo defendeu que não se deve recalcar o difícil passado.
A solução encontrada para a crise criada pelo gasoduto foi criar um grupo bilateral de trabalho que vai acompanhar a implementaçãodo projeto. Na opinião de Merkel, a Polônia deveria ter acesso ao gasoduto.
Desterro da população
Outro "espinho" nas relações é a questão do banimento da população no final da guerra, em conseqüência do deslocamento da fronteira da Polônia para o oeste. Os poloneses resistem à construção, em Berlim, do Centro de Desterrados. Pouco antes de sua eleição, Angela Merkel defendeu a construção, pela qual disse considerar-se "particularmente responsável".
Kaczynski, que admitiu "nunca ter posto um pé na Alemanha", demonstrou conhecer bem o país e sua imprensa ao conceder uma entrevista ao popular jornal Bild, em que aconselhou "ser melhor para as relações entre a Alemanha e a Polônia que este centro nunca seja construído".
Nas conversas em Varsóvia, nesta sexta-feira, ambas as partes combinaram levar o tema adiante com base numa declaração conjunta do então presidente alemão Johannes Rau e do presidente polonês Aleksander Kwasniewski, datada de outubro de 2003. Nela os dois políticos conclamaram os europeus a uma reavaliação e documentação de todos os casos de fuga e banimento ocorridos no continente.