Alemães trabalham 42 horas por semana
21 de julho de 2004Os alemães com carteira assinada trabalham, em média, 42 horas por semana, ou seja, três horas a mais do que previsto na maioria dos contratos. "Isso é mais do que muitos críticos pensam e corresponde à média do que se trabalha em outros países europeus", conclui um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa de Chances Sociais, de Colônia, para a Secretaria do Trabalho da Renânia do Norte-Vestfália, Estado mais populosos da Alemanha.
A pesquisa representativa feita entre julho e outubro de 2003 também revelou que apenas a metade dos quatro mil trabalhadores com emprego fixo consultados ainda tem horário de expediente definido. "Os outros 50% têm jornada diária variável", disse o secretário do Trabalho, Harald Schartau (SPD). Vinte e cinco por cento dos entrevistados trabalharam apenas meio expediente no ano passado.
Com essa flexibilidade, os trabalhadores apóiam suas empresas diante das oscilações de demanda. "Apenas 39% dos empregados que participam da definição de seu horário de trabalho atingem, a longo prazo, um equilíbrio entre o tempo previsto no contrato e as horas realmente trabalhadas", acrescentou Schartau.
Muitos trabalhadores reclamam dos efeitos negativos da jornada variável sobre a vida privada. Mais de 30% dos consultados disseram que recebem o plano de trabalho com apenas uma semana de antecedência; em 17% dos casos, esse aviso vem apenas quatro dias antes. Obrigações familiares e o planejamento do tempo livre são subordinados às necessidades da empresa. "Isso contradiz o desejo manifestado por 47% dos entrevistados casados de reduzir em uma ou duas horas sua jornada diária de trabalho", conclui o estudo.
Segundo Schartau, os dados mostram que a Alemanha está longe de ser a campeã mundial do lazer, como muitos dizem. Ele criticou também que a proposta de um aumento geral da jornada semanal de trabalho, atualmente discutida no país, objetiva somente a redução dos custos de mão-de-obra. "Mas a Alemanha não será competitiva apenas através de salários baixos e, sim, se defender sua posição no mercado mundial das inovações tecnológicas", disse.
Conflito na DaimlerChrysler
Um caso exemplar da tentativa de reduzir custos de produção via aumento da jornada de trabalho é o atual conflito na DaimlerChrysler, que quer economizar 500 milhões de euros por ano. O sindicato dos metalúrgicos rejeita o corte dos adicionais de turno e da pausa de cinco minutos por hora trabalhada e exige uma redução salarial dos seis mil executivos do conglomerado, não apenas da cúpula da empresa.
Enquanto isso, há sinais de consenso para que 20 mil funcionários dos departamentos de pesquisa e desenvolvimento da montadora passem a trabalhar 40 horas por semana, mediante uma compensação salarial. Fontes ligadas à empresa dizem, no entanto, que as negociações ainda estão longe de ser concluídas.
Horas trabalhadas na UE
As discussões sobre a jornada de trabalho têm facetas bem divergentes nos países da União Européia. Na Inglaterra, ocorrem até as primeiras greves com vistas a reduzir para 35 o número de horas trabalhadas por semana. Não se fala em aumento de jornada nem em redução dos salários dos executivos. A explicação é simples: a economia inglesa deve crescer 3,5% em 2004; a taxa de desemprego do país é a mais baixa dos últimos 25 anos.
Na Holanda, contagiada pelas discussões na Alemanha, fala-se cautelosamente em trabalhar mais. A fábrica de móveis Smaed Europe BV, por exemplo, quer aumentar a jornada de 36 para 40 horas, sem aumento de salário, no dia 1º de agosto. A central sindical CNV quer levar o caso à Justiça, para evitar um perigoso precedente.
Na Dinamarca, a discussão alemã causa perplexidade. Os dinamarqueses trabalham, em média, 37,5 horas por semana, mas tanto empresários quanto trabalhadores demonstram um alto grau de flexibilidade.
Na Bélgica, o assunto virou notícia, depois que a Siemens decidiu adotar a jornada de 40 horas em duas fábricas alemãs (em Bocholt e Kamp-Lintfort) sem compensação salarial. O grupo alemão também tem subsidiárias na Bélgica, mas o debate até agora não teve efeitos práticos nesse país.
Na Espanha, no momento, tudo gira em torno da reforma do mercado de trabalho, que o governo socialista quer negociar com os sindicatos. O objetivo é reduzir o número de contratos temporários – em parte com apenas alguns dias de duração –, sob os quais trabalham 30% dos espanhóis. Um dos efeitos negativos desses "contratos de lixo" é que as empresas não investem na formação da mão-de-obra.
Na Grécia e no Chipre trabalha-se 40 horas por semana e economiza-se o tempo de discussões inúteis sobre a jornada.