Chefia da DaimlerChrysler aceita até reduzir próprio salário
19 de julho de 2004A presidência do conglomerado DaimlerChrysler sinalizou neste domingo (18) que está disposta a renunciar a parte de seus rendimentos, caso os funcionários aceitem a jornada semanal de trabalho prolongada. Segundo o jornal Bild am Sonntag, os altos executivos da empresa propuseram uma redução de 10%, numa tentativa de aplacar o atrito das últimas semanas.
Seu porta-voz, Thomas Fröhlich, confirmou apenas que "a chefia está disposta a fazer sua parte, no contexto global da situação". Na véspera, os quase 15 mil operários de Sindelfingen e Untertürkheim, no estado de Baden-Württemberg, fecharam ambas as fábricas, em protesto contra as tentativas da Daimler de reduzir, a suas custas, os gastos de produção.
Entre mais trabalho e a África do Sul
O conflito trabalhista acirrara-se na semana anterior. A DaimlerChrysler ameaçou transferir a produção de seu novo sedã Mercedes classe C para Bremen e a África do Sul, caso o sindicato não concordasse em medidas com o fim de reduzir os custos de produção em 500 milhões de euros.
Estas incluem sobretudo o prolongamento das jornadas semanais, sem reajuste salarial. Por outro lado, a transferência da produção significará a perda de seis mil postos de trabalho em Sindelfingen.
O diretor-executivo do grupo teuto-americano, Jürgen Schrempp, declarou ao jornal Welt am Sonntag que espera uma solução "em breve", e que todos estão engajados em negociações construtivas.
Schröder interfere
O sindicato dos metalúrgicos alemães, IG-Metall, taxou a ameaça de "chantagem", incitando os operários à greve. O 15 de julho foi declarado "dia nacional de protesto" contra a DaimlerChrysler. Faixas ao longo dos piquetes mostravam frases como "É guerra!".
A escalada na confrontação entre empregadores e funcionários preocupou o chanceler federal, Gerhard Schröder, levando-o a interferir abertamente na sexta-feira, insistindo que ambos os lados continuem trabalhando por uma solução.
Para o chefe de governo, o clima exacerbado é "um exemplo da perda de uma cultura em que ainda acredito, baseada em que os envolvidos não se insultem publicamente, e que os dois lados não façam ameaças mútuas".
Capitalismo cego, como há 100 anos
A montadora de automóveis é apenas uma das grandes firmas alemãs que tenta reduzir seus gastos através do retorno à jornada semanal de 40 horas. Em junho, a Siemens desistira de transferir milhares de postos para a Hungria, depois que os sindicatos concordaram em abandonar a semana de 35 horas. Este acordo levou companhias como a produtora de caminhões pesados MAN a propor alterações semelhantes.
Franz Müntefering, presidente do Partido Social Democrático (SPD), da coalizão de governo, acusou os empresários de tentar beneficiar-se do mau momento econômico para pressionar sindicatos e trabalhadores. Desse modo estariam girando a roda do tempo 100 anos para trás.
Em entrevista ao Berliner Zeitung, ele lembrou que as firmas têm responsabilidades perante seus funcionários, impedindo-as de trocar seus sítios de produção a bel-prazer. "O caminho que estão trilhando é errado. Salários módicos não são o futuro da Alemanha", advertiu Müntefering, "temos que evitar acabar em capitalismo cego e total".
Conservadores apóiam DaimlerChrysler
O representante dos empresários do setor metalúrgico, Martin Kannegiesser (Gesamtmetall) classificou as declarações do social-democrata como "um tipo de hostilidade contra a indústria que já nos causou problemas suficientes".
Angela Merkel, líder da União Democrata Cristã (CDU), da oposição conservadora, também mostrou-se bem menos compassiva do que Müntefering, ao comentar o impasse. Ela considera "simplesmente lógico" a DaimlerChrysler procurar locações que lhe ofereçam custos mais baixos.
A representante da oposição conservadora advertiu ainda os sindicatos contra a tentativa de alcançar aumentos salariais excessivos e que podem implicar perda de competitividade global às companhias alemãs. "À luz da globalização, há um verdadeiro perigo de acordos salariais que acabem acarretando a transferência da produção para o exterior ", pontificou Merkel.