Alemães têm provérbios para todos os casos
13 de junho de 2016Para dois teimosos que brigam por algo e ninguém quer desistir, o provérbio recomenda: Der Klügste gibt nach (O mais inteligente – ou prudente – cede). Mas – sabedoria de provérbios à parte – se os menos inteligentes é que levam, não será por isso que o mundo vai de mal a pior?
Mundo ingrato
Undank ist der Welt Lohn (A ingratidão é a recompensa do mundo, ou este mundo é cheio de ingratidão) – suspiram os que batalham e não obtêm recompensa à altura dos seus esforços. Se é certo que se colhe conforme o que se semeia (Wie die Saat, so die Ernte), como explicar, se não pela tal da ingratidão, que o camponês mais burro fique com as batatas maiores? (Der dümmste Bauer bekommt die dicksten Kartoffeln). Bom, alguma lógica machadiana deve haver nessa máxima, já que os vencedores ficam com as batatas, como bem sabia Quincas Borba.
Talvez a natureza procure compensar a falta de inteligência à sua maneira, pois Die Dummen haben das meiste Glück (Os burros, ou ingênuos, são os que têm mais sorte), o que qualquer jogador de cartas já deve ter confirmado. E se você pensa que isso um dia vai mudar, está muito enganado. E prepare-se, pois Die Dummen sterben nicht aus! (Os burros nunca se extinguem).
O diabo e a galinha cego
Mas não vamos ser tão pessimistas a ponto de pintar o diabo desse jeito na parede (Den Teufel an die Wand malen), que, se não chega a ser provérbio, é uma expressão idiomática útil. Além do mais, der Teufel ist nie so schwarz, wie man ihn malt (O diabo nunca é tão negro quanto o pintam).
Quem não tem muita sorte, que se console. O mundo não é só dos bobocas e dos fortes, pois Ein blindes Huhn findet auch einmal ein Korn (Uma galinha cega algum dia também encontra um grão). E, de grão em grão, se você não enche o papo, ganha experiência, o que é muito importante já que Die Übung macht den Meister (A prática faz o mestre, ou é errando que se aprende).
A magia do começo e o enjôo da abundância
E se você achar que Aller Anfang ist schwer (Todo começo é difícil), não desanime. Pelo menos comer e coçar é só começar e lembre-se que Aller Anfang wohnt ein Zauber inne (Todo começo tem sua magia), como o Nobel de literatura alemão Hermann Hesse intitulou um belo ensaio.
A frase não virou provérbio, mas bem que merecia. Se você não quiser fazer tudo sozinho, procure ajuda, já que Viele Hände machen leicht ein Ende (Muitas mãos tornam mais fácil o fim).
Essa regra, porém, tem sua exceção na cozinha, onde muita mão causa confusão e prejudica o paladar: Viele Köche verderben den Brei (Muitos cozinheiros estragam o mingau). Qualquer excesso, aliás, provoca enjôo (Überfluss macht Überdruss).
E minha sogra devia conhecer este provérbio alemão, quando arrancava de todos elogios, depois de demorar horrores para tirar o jantar: Hunger ist der beste Koch (A fome é o melhor cozinheiro). E este outro, que também saiu da cozinha, no sentido não tem nada a ver com fogão e panelas: Es wird nichts so heiss gegessen wie es gekocht wird (Nada se come tão quente quanto se cozinha), uma outra versão do diabo que não é tão feio como se pinta.
A gritaria dos inocentes
Viel Geschrei und wenig Wolle (Muita gritaria para pouca lã) terá dito algum camponês ao tosquiar suas ovelhas. O sentido é o mesmo do título da peça de Shakespeare Much ado about nothing, que em alemão é Viel Lärm um nichts (Muito barulho por nada). A correspondência mais adequada seria a nossa tempestade no copo d'água.
E como vamos terminando, lá vêm os últimos, que nem sempre são os primeiros. Den letzten beißen die Hunde (O último, os cachorros mordem). O último é que paga o pato, diríamos nós. A frase cabe bem quando uma turma sai do bar e o garçom entrega a conta ao pateta que ficou por último.