América Latina presente
6 de maio de 2003Um empreendimento que começou modesto já pode contar uma história de sucesso: o festival CineLatino, criado na cidade universitária de Tübingen com o propósito de divulgar o cinema latino-americano, está entrando em sua décima edição. Considerado maior fórum do cinema latino-americano na Alemanha, ele é o único festival alemão a se realizar ao mesmo tempo em quatro cidades. No ano passado, atraiu mais de dez mil espectadores. O programa deste ano inclui 30 produções cinematográficas — muitas das quais premiadas em outros festivais — de oito países entre Argentina e México, que vão ser mostradas de 7 a 19 de maio em cinemas de Tübingen, Frankfurt, Stuttgart e Heidelberg.
Mas o evento, cujo diretor artístico é o brasileiro Paulo Roberto de Carvalho, tem mais do que filmes para oferecer. Os países em destaque este ano — Brasil e Colômbia — vão ser enfocados também numa série de conferências realizadas em cooperação com a Universidade de Tübingen e que abordam interessantes aspectos da literatura, religião e política. A violência — onipresente no cotidiano de muitos países do continente — é o fio condutor que perpassa vários dos filmes selecionados, bem como as conferências e debates.
Destaque para Beto Brant
A parte do programa dedicada ao Brasil abrange nove filmes, a começar com o mítico Orfeu do Carnaval (1959), de Marcel Camus, que na Alemanha tem o título de Orfeu Negro. Inclui Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, filme, aliás, que está em vésperas de entrar em circuito nacional na Alemanha, acontecimento raro em se tratando de produção latino-americana.
Destaque está sendo dado ao paulistano Beto Brant, do qual o público poderá ficar conhecendo três produções: Os Matadores (1997), Ação entre Amigos (1997/98) e O Invasor (2001).
Outros títulos são Eu, Tu, Eles (2000), de Andrucha Waddington, e A Guerreira da Luz (2001), documentário da alemã Monika Treut que apresenta Yvonne Bezerra de Mello e seu trabalho com crianças de rua no Rio de Janeiro. O documentário Fé (1999), de Ricardo Dias, e o longa Lavoura Arcaica (2001), de Luís Fernando Carvalho, estão inseridos num contexto mais amplo, sendo acompanhados de palestras sobre, respectivamente, a questão religiosa no Brasil e o patriarcado. Esta última a cargo do professor berlinense Berthold Zilly, que está traduzindo para o alemão o romance de Raduan Nassar no qual o filme se baseia e que vai ser lançado na próxima Feira Internacional do Livro de Frankfurt.
De García Márquez a organizações feministas
A Colômbia, outra presença forte, abre o festival com Bolívar soy yo (2002), sátira de Jorge Alí Triana sobre o libertador Simón Bolívar. Uma mostra especial está sendo dedicada à cineasta Marta Rodríguez, pioneira do cinema crítico colombiano e da qual vão ser mostrados cinco documentários produzidos entre 1972 e 2001.
O desenvolvimento do conceito de cidadania e a atuação de organizações feministas num país marcado pelos conflitos entre tropas do governo, paramilitares e guerrilheiros são tema de uma palestra. Uma outra se dedica à recepção da obra de Gabriel García Márquez na Alemanha, sendo complementada pela apresentação de três filmes baseados em criações do Nobel de Literatura latino-americano.
Um programa que promete e pode atrair ainda mais espectadores do que a edição passada.