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Análise: O resultado que muitos temiam na Venezuela

Leandro Uría ip
16 de outubro de 2017

Oposição anunciou que não reconhecerá vitória do chavismo em eleições regionais denunciadas como fraudulentas. País deve enfrentar nova onda de protestos e violência, assim como mais sanções internacionais.

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Eleitores da oposição na Venezuela
Eleitores da oposição reagem ao ouvir resultados do pleitoFoto: Reuters/C.G. Rawlins

Foi um resultado que pouquíssimos esperavam, mas que muitos temiam. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente Nicolás Maduro, conquistou o governo de 17 dos 23 estados do país nas eleições regionais deste domingo (15/10). E poderiam ter sido 18.

Vários institutos de pesquisa de renome afirmavam em off que o resultado seria exatamente o contrário, favorável à oposição, e diziam que, devido às irregularidades eleitorais e à pressão do aparato chavista, a corrida eleitoral terminaria empatada. Ou seja, o partido no poder e a oposição ficariam com aproximadamente 11 estados cada um.

Leia mais: Chavismo vence, mas oposição denuncia fraude

Para comícios eleitorais, o governo chegou a fazer uma lista de presença de funcionários públicos e beneficiários de bolsas de alimentos subsidiados. Também foram enviados partidários para "auxiliar" deficientes e idosos durante a votação.

Apesar do "erro" dos especialistas em opinião pública em relação ao resultado final, eles acertaram em cheio quanto ao nível de participação, superior a 60% do eleitorado e bastante alto para esse tipo de votação.

A eleição foi alvo de uma série de denúncias de irregularidades, mas a oposição acreditava que poderia neutralizá-las com uma operação especial, que batizou de Operação Remate contra Maduro.

A ideia era recriar o espírito que levou à vitória da oposição nas eleições legislativas de 2015, de modo que o apoio popular permitisse exercer uma pressão forte o suficiente para evitar as manipulações eleitorais do chavismo.

Em um país onde os principais líderes da oposição estão desabilitados ou na prisão, foram impressas cédulas confusas e se alteraram seções eleitorais de última hora, a fim de desorientar ainda mais os militantes da oposição.

Por esse motivo, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), frente que reúne a oposição, elaborou esquemas de emergência para tentar aproximar os eleitores dos centros de votação que lhes foram determinados no último momento. E acreditavam ter tirado de letra: tanto que importantes líderes da oposição, como Julio Borges e Henrique Capriles, declararam que seus eleitores haviam superado os obstáculos para votar pouco antes de a MUD atribuir a si mesma – por volta das 19 horas de ontem – um triunfo eleitoral histórico na Venezuela. Mas havia nuvens no horizonte.

Pouco depois das 20 horas locais, a votação entrou em território desconhecido graças às seções eleitorais que permaneciam abertas, ainda que não houvesse fluxo de eleitores. Por esse motivo, a MUD pediu aos fiscais de mesa um último esforço, que permanecessem nos centros de votação e não abandonassem o voto dos venezuelanos. Foi em vão.

Henry Falcón, governador da oposição do estado de Lara, declarou, inclusive, que a Guarda Nacional Bolivariana havia se apropriado dos centros de votação depois das 18 horas, sem que a autoridade eleitoral anunciasse o fechamento oficial do pleito.

"Fraude maciça"

Após uma longa demora, depois das 22 horas, Tibisay Lucena, chefe do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, anunciou os resultados – mais tarde qualificados por opositores de fraude maciça e aplaudidos pelo chavismo, que falou de um dia de eleição exemplar e do profundo espírito democrático da Venezuela.

Na verdade, já antes havia, em todos os lugares, sinais de que as eleições poderiam desmoronar. Maduro havia declarado de forma tranquila que a eleição dos governadores não foi convocada pelas autoridades eleitorais, e sim pela Assembleia Constituinte – eleita em julho passado em um pleito bastante questionável, no qual a própria empresa de informática encarregada da contagem dos votos acusou o governo de inflar o resultado em um milhão de votos.

Como se isso não fosse um sinal muito claro do que acabaria acontecendo com a votação deste domingo, Maduro foi mais longe: disse que os governadores eleitos deveriam jurar obediência à Assembleia Constituinte como condição sine qua non para assumir o cargo.

Dessa forma, o voto de milhões de venezuelanos corria o risco de ser em vão, mesmo que as autoridades eleitorais reconhecessem o triunfo da oposição nos estados em disputa. Não precisou chegar a tanto: o chavismo foi um sucesso, segundo o governo e as autoridades eleitorais. E Maduro pode se iludir com o que os governadores irão jurar diante desse organismo. Ele também pode acreditar que alcançou seu verdadeiro objetivo de manipular a votação para legitimar a Assembleia Constituinte e dotar "a Revolução Bolivariana de novas armas" em meio a uma crise galopante.

Mas ninguém deveria se deixar enganar. O que realmente está acontecendo é que voltarão os dias de violência e protestos em massa na Venezuela e se agravarão as sanções internacionais. Enquanto isso, o país se moverá em direção à suspensão de pagamentos de sua dívida, o que aumentará o calvário sofrido pelo povo venezuelano por culpa de sua liderança política.