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Angela Merkel

23 de agosto de 2009

Durante os anos da coalizão com os social-democratas, Merkel se orientou pela política das soluções pragmáticas, evitando posicionamentos políticos claros. Ela é clara favorita nas próximas eleições parlamentares alemãs.

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Apesar de favorita, vitória de Merkel ainda não é certaFoto: AP

Nas eleições parlamentares alemãs de 27 de setembro próximo, serão escolhidos apenas os deputados indicados pelos diversos partidos. Posteriormente, as maiorias partidárias no Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, decidirão sobre o cargo de chanceler federal.

Pesquisas apontam a atual premiê Angela Merkel como a política mais popular da Alemanha. Se houvesse voto direto para a escolha do chefe de governo, sua reeleição estaria garantida.

Além da aprovação popular, a democrata-cristã nascida em 1954 foi eleita, pelo quarto ano consecutivo, a "mulher mais poderosa do mundo" pela revista norte-americana de economia Forbes. Em 22 de novembro de 2005, Merkel assumiu o governo alemão, atingindo o ponto máximo de uma carreira política iniciada 20 anos atrás, nos conturbados tempos da antiga República Democrática Alemã (RDA).

Do computador à política

Em 1989, um grupo evangélico de oposição da antiga Alemanha Oriental denominado Demokratischer Aufbruch (Arrancada Democrática) havia recebido um computador de presente e procurava alguém que pudesse operá-lo. Com doutorado em Física, Angela Merkel inscreveu-se e, em pouco tempo, tornou-se a porta-voz do pequeno grupo.

Quando o partido passou a fazer parte do governo do político democrata-cristão Lothar de Maizière, após as primeiras eleições livres da RDA, em março de 1990, a cientista assumiu o cargo de vice-porta-voz do governo.

Após a reunificação das duas Alemanhas, a Arrancada Democrática aliou-se aos democrata-cristãos ocidentais, levando Angela Merkel a seu atual partido, a União Democrata Cristã (CDU).

"Minha menina"

Nas primeiras eleições parlamentares, dois meses após a reunificação, em dezembro de 1990, Merkel foi eleita deputada pelo estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Quando o antigo premiê alemão Helmut Kohl procurou uma política da antiga Alemanha Oriental para comandar o Ministério da Mulher e da Juventude, De Mazière e outros políticos do leste alemão indicaram o nome de Merkel.

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Merkel em 1992Foto: dpa/Fotoreport

Ao assumir o cargo de ministra com somente um ano de experiência política, o tiro poderia ter saído pela culatra, mas ela logo conseguiu dar conta da tarefa, sendo chamada de "minha menina" por Kohl, que reconheceu seu talento e a encorajava de todos os modos possíveis.

Em 1991, Merkel foi nomeada vice-presidente da CDU e, em meados de 1993, líder do partido em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Após as eleições parlamentares de 1994, assumiu o importante cargo de ministra do Meio Ambiente.

Distanciamento de Kohl

Em 1998, Kohl perdeu as eleições parlamentares contra o social-democrata Gerhard Schröder e renunciou ao cargo de presidente do partido. Seu sucessor à frente da CDU foi Wolfgang Schäuble e Angela Merkel tornou-se secretária-geral do partido, ou seja, o braço direito de Schäuble. Juntos e de forma enérgica impuseram um novo posicionamento do partido quanto a seu conteúdo programático.

A descoberta de casos de doações ilícitas, contas e transferências ilegais de dinheiro por parte da CDU passou então a ameaçar os esforços de Schäuble e Merkel no partido. O antigo premiê alemão Helmut Kohl admitiu publicamente que arrecadara dinheiro de caixa dois para seu partido, mas recusou-se a revelar o nome dos doadores, precipitando a CDU numa grande crise.

Nessa situação, Merkel ousou uma saída. Em artigo no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, ela exigiu o que, até então, ninguém ousara: o distanciamento da CDU em relação Helmut Kohl. O caso do caixa dois também respingou no antigo presidente do partido, Wolfgang Schäuble, que renunciou, deixando o caminho livre para Angela Merkel. Na convenção partidária de abril de 2000 ela foi eleita presidente da CDU com 96% dos votos.

Coalizão com social-democratas

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Acuado, Schröder convocou eleições e perdeu contra a democrata-cristãFoto: AP

Em 2002, no entanto, Merkel vivenciou uma aparente derrota, mas que posteriormente revelou-se uma vitória: Edmund Stoiber, presidente da União Social Cristã (CSU), partido conservador bávaro de coligação, apresentou-se como concorrente de Merkel à chancelaria federal.

Após longas discussões, a democrata-cristã desistiu a favor de Stoiber, que acabou perdendo as eleições contra Schröder. Na opinião de observadores políticos, Merkel também teria poucas chances de vitória.

Três anos mais tarde, quando o acuado premiê social-democrata convocou novas eleições, estava claro que Angela Merkel deveria assumir o papel de concorrente.

A orientação neoliberal, que a CDU assumira após a convenção partidária de 2003, quase lhe custou a vitória no pleito contra Schröder em 2005, mas, no final, as conservadoras CDU/CSU venceram por uma pequena margem.

A desejada coligação com os liberais democratas (FDP) não se concretizou. Surgiu então a chamada "grande coalizão" do governo alemão, agrupando a CDU/CSU e o Partido Social Democrata (SPD) sob o comando de Angela Merkel.

Posicionamentos políticos turvos

A lição que Merkel tirou dessa vivência foi, visivelmente, evitar posicionamentos políticos claros. Durante os anos da grande coalizão, ela tem se orientado pela política das soluções pragmáticas de caso para caso, não arriscando, assim, grandes máculas em sua imagem pública.

Além disso, Merkel se movimenta de forma segura no cenário internacional, o que muitos não esperavam, e atinge índices mais altos de aceitação pelo eleitorado do que qualquer outro chefe de governo alemão.

Apesar da crise financeira global, ela é a clara favorita para as próximas eleições parlamentares. No entanto, ainda está longe da vitória e sabe disso. Afinal de contas, em 2005, também era favorita – e por pouco não perdeu.

Autor: Peter Stützle
Revisão: Augusto Valente