Reforma é o antídoto
25 de outubro de 2008A crise financeira global foi o tema central da 7ª Cúpula da Reunião Ásia-Europa (Asia-Europe Meeting – Asem), em Pequim. Os 43 países participantes – 26 da União Européia e 17 asiáticos – encerraram o encontro neste sábado (25/10), com a constatação de que o sistema monetário e financeiro internacional necessita de reformas efetivas e abrangentes. Trata-se não apenas de minorar os sintomas, mas também para neutralizar as causas e evitar que um colapso das atuais dimensões volte a acontecer.
"Capitalismo de cassino"
Enquanto os Estados Unidos permanecem estagnados em seu vácuo administrativo, com o presidente George W. Bush praticamente fazendo malas para deixar a Casa Branca, os países da Asem querem apresentar-se na cúpula financeira do G20, em meados de novembro próximo, com uma posição consensual.
Porém os sinais não são tranqüilizadores. As bolsas de valores continuam se precipitando, e os temores de uma crise aguda da economia real ainda pairam, apesar dos pacotes de emergência bancária lançados pelos EUA e pela UE. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, está ciente de que seus esforços de estabilização ainda não deram os resultados esperados. Ela expressou decepção pelo fato de os bancos de seu país não haverem recorrido ao pacote de medidas aprovado por Berlim em tempo recorde.
A Europa e a Ásia querem sanear seus sistemas financeiros o mais breve possível. A receita inclui mais controle, mais transparência, menos riscos e mais garantias. O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, criticou o "capitalismo de cassino" e o "flagrante fracasso dos organismos de vigilância".
FMI: cotado e criticado
O presidente e anfitrião da Asem, chefe de governo chinês Wen Jiabao, declarou: "A economia virtual deve ser coordenada com a real, os problemas virtuais não podem influenciar o desenvolvimento da economia real". Ao final do encontro, ele observou: "Reafirmamos ser preciso tomar medidas rápidas para impulsionar o crescimento econômico em todo o mundo". E insistiu que se tirem lições da atual crise.
O pilar da reforma proposta pela Asem é uma supervisão mais rigorosa dos mercados financeiros e de suas operações. Apesar de certa resistência, o candidato mais cogitado para desempenhar este papel é o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI). Contudo o consenso geral é que, para tal, seria necessária uma reforma da instituição, "que não exatamente brilhou no gerenciamento da atual crise", criticou Singh.
Clima permanece importante
O presidente em turno da UE, o francês Nicolas Sarkozy, disse contar com o desejo de reforma do sistema financeiro expresso pelos países asiáticos, e sobretudo pela China, para que se alcancem resultados concretos na cúpula de 15 de novembro, em Washington. "Temos que converter este encontro num fórum para tomar decisões", ressaltou. Sua opinião foi ecoada pelo chefe da Comissão Européia, José Manuel Barroso.
Merkel também se declarou a favor de que na cúpula de Washington seja apresentado um plano de trabalho para a reforma do sistema financeiro internacional, como base para "uma verdadeira constituição financeira de alcance mundial". O encontro reunirá os líderes do Grupo dos 20 (G20), formado pelas mais importantes nações industrializadas e emergentes.
Apesar das dificuldades econômicas que se anunciam, os participantes da Asem se comprometeram a manter seus objetivos na luta contra o aquecimento global. A próxima reunião de cúpula do grupo euro-asiático está marcada para 2010, na Bélgica.