Anvisa autoriza compra de 6 milhões de doses da Coronavac
24 de outubro de 2020Após polêmica envolvendo a Coronavac, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta sexta-feira (23/10) a importação de 6 milhões de doses do imunizante, produzido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.
A licença, por enquanto, é apenas para importação da vacina. A distribuição das doses do imunizante, ainda sem registro, depende de autorização da própria Anvisa. O pedido de importação em caráter excepcional foi feito pelo Instituto Butantan. Enquanto a Anvisa não autorizar a aplicação, o Butantan será responsável por armazenar as doses e garantir que elas não sejam usadas.
Atualmente, a Coronavac está na fase 3 de testes clínicos, com a participação de mais de 9 mil voluntários brasileiros, em sete estados. Caso a última etapa de testes comprove a eficácia da vacina, o acordo entre a Sinovac e o Butantan prevê a transferência de tecnologia para produção do imunizante no Brasil.
Esta semana, a vacina chinesa esteve no centro de polêmica envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o governador de São Paulo, João Doria.
Na terça-feira, Pazuello anunciou a negociação para adquirir 46 milhões de doses da Coronavac via Instituto Butantan e a inclusão dela no Programa Nacional de Imunizações (PNI)o início da vacinação já no começo do próximo ano. No dia seguinte, Bolsonaro reagiu agressivamente ao anúncio e afirmou que o país não iria adquirir as vacinas. Em resposta a seguidores radicais que se posicionaram contra o imunizante no Facebook, Bolsonaro escreveu: "Não será comprada". A outra seguidora, o presidente afirmou: "Tenha certeza, não compraremos vacina chinesa".
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro ainda disparou várias mensagens no mesmo tom para seus ministros e aliados no Congresso. "Alerto que não compraremos uma só dose de vacina da China, bem como o meu governo não mantém qualquer diálogo com João Doria na questão do covid-19. PR Jair Bolsonaro", diz o texto, citando o governador paulista, desafeto de Bolsonaro.
Depois, Bolsonaro divulgou um comunicado em suas redes sociais em que chama a Coronavac de "vacina chinesa de João Doria". "Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem", escreveu.
No entanto, em agosto, Bolsonaro liberou R$ 1,9 bilhão para a produção de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. A vacina também está em fase 3 de testes, o que significa que o governo brasileiro assume parte dos riscos relativos ao seu desenvolvimento, mesmo sem saber se o imunizante é eficaz.
No total, o governo de São Paulo fechou contrato com a Sinovac para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac. As primeiras 6 milhões virão prontas da China. As outras 40 milhões serão envasadas e rotuladas no Instituto Butantan, a partir de material importado.
Horas antes da liberação, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, reclamou da demora da Anvisa na análise da importação da matéria-prima da China para a produção da vacina. Um pouco depois, a Anvisa liberou nota negando o entrave e justificando que a vacina envasada e a matéria-prima são produtos em "condições sanitárias diferentes". De acordo com a agência, "para não haver perda de tempo", o processo seria desmembrado, com análises separadas para a liberação da importação das vacinas envasadas e dos insumos.
No fim do dia, a Anvisa liberou a compra das doses, mas ainda não esclareceu sobre o aval à importação da matéria-prima.
Vacina segura
De acordo com resultados preliminares dos ensaios clínicos da fase 3 divulgados nessa semana, a Coronavac provou ser segura,após a aplicação das duas doses em 9 mil voluntários no país. "As manifestações clínicas adversas são muito leves, não tivemos nenhuma manifestação clínica que tenha exigido uma atenção médica maior. Então, é um perfil de segurança muito apropriado", afirmou o diretor do Butantan, Dimas Covas.
Covas também disse que os resultados obtidos no Brasil são semelhantes ao dos ensaios clínicos da fase 3 realizados em 50 mil voluntários na China. Ele explicou, porém, que os dados sobre a eficácia do imunizante só serão divulgados após a vacinação de todos os 15 mil voluntários previstos no estudo.
O Brasil já aprovou testes clínicos de quatro imunizantes no país. A aprovação mais recente foi para Janssen, unidade farmacêutica da Johnson & Johnson. Em 2 de junho foi autorizado o primeiro programa de testes, da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pela farmacêutica AstraZeneca.
Em 3 de julho, a Anvisa deu aval à vacina desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. E em 21 de julho, autorizou testes clínicos de vacinas desenvolvidas pela empresa BioNTech, da Alemanha, em parceria com a Pfizer, dos Estados Unidos.
Apesar de ser um dos imunizantes mais avançados nos estudos clínicos, uma pesquisa recente mostrou que 46% dos brasileiros afirma que não tomaria uma vacina de origem chinesa. O levantamento encomendado pela emissora CNN Brasil indicou ainda que 38% dos brasileiros também rejeitam a vacina russa e 22% imunizantes de Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha.
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