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Apesar de risco mínimo, Brasil faz simulações e tem plano contra ebola

Clarissa Neher16 de setembro de 2014

Exercício de teste já foram feitos em Guarulhos e no Galeão. Modelo de pesquisadores alemães diz que vírus poderia chegar ao Brasil vindo do Senegal, mas risco é muito baixo.

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Foto: picture-alliance/dpa/F.-A.Murpy

A atual epidemia de ebola na África tem colocado governos do mundo inteiro em alerta. Apesar da possibilidade de o vírus chegar a outros continentes ser pequena, diversos países criaram planos de contingência, entre eles o Brasil.

Uma das medidas prevista no plano brasileiro é o treinamento de profissionais. Para isso, o Ministério da Saúde realizou nesta terça-feira (16/09) a simulação de um caso de suspeito de ebola no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. Exercício semelhante já havia sido feito no Galeão, no Rio, no final de agosto.

"Com a realização desses treinamentos no Rio de Janeiro e, agora, em São Paulo estão cobertas as duas maiores portas de entradas de viajantes no país", afirma o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa.

A simulação iniciou com a comunicação de um caso suspeito na aeronave. O procedimento padrão estipula que, ao aterrissar no país, o passageiro seja avaliado pelas autoridades sanitárias, juntamente com a equipe de saúde. Se houver suspeita de ebola, o paciente é levado para a quarentena num hospital preparado para receber o doente. Assim, o transporte até o Hospital Emílio Ribas também fez parte do exercício.

No aeroporto, passageiros que tiveram contato com o paciente são entrevistados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para verificar se há risco de infecção. Além disso, ambientes e equipamentos que estiveram em contato com o doente passam pela descontaminação.

"Embora a chegada ao país de um viajante com a doença seja pouco provável, o exercício serve para conferir se todos os procedimentos transcorrem como o planejado", diz Barbosa. A próxima simulação deve ser realizada num porto.

Plano nacional de contingência

Além de simulações, o plano brasileiro de contenção do ebola prevê ainda a definição de pelo menos um hospital de referência para receber casos suspeitos em cada estado, a indicação de um laboratório de referência para o diagnóstico e formas de notificação de casos, explica a infectologista Marilia Santini de Oliveira, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) da Fundação Oswaldo Cruz.

A partir do plano nacional, estados e municípios foram orientados a desenvolver um plano local, adquirir equipamentos de proteção e treinar funcionários da saúde. Para o treinamento, o ministério incentiva a realização de simulações locais. Como hospital de referência nacional, para onde pacientes com suspeita devem ser enviados caso algum estado não tenha condições de recebê-los, o órgão federal indicou o INI, no Rio de Janeiro.

Segundo Oliveira, o Brasil possui um laboratório especializado para realizar exames para detectar ebola: o Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém. Na avaliação da infectologista, as medidas tomadas pelo governo federal atualmente são suficientes para evitar que a epidemia chegue ao país.

A especialista, entretanto, afirma que é importante manter a mobilização ao longo de todo o surto na África. "Para manter essa mobilização é necessário apoio constante aos hospitais de referência, que precisam deixar leitos livres para a internação de eventuais casos, providenciar treinamento continuado aos funcionários e atualizar os planos de contingência", disse.

Risco pequeno

As chances de o ebola chegar ao Brasil são mínimas. Segundo um modelo desenvolvido pelo Instituto Roberto Koch e a Universidade Humboldt de Berlim, o aeroporto de Dakar, no Senegal, seria o ponto de partida mais provável para a entrada do vírus no Brasil.

O modelo, que calcula o risco de importação relativo baseado no tráfego aéreo internacional e em mais de 25 mil conexões diretas, afirma que a probabilidade de o ebola sair do Senegal e chegar ao Brasil é de 0,2756%.

"Risco de importação de 1% no aeroporto X significa que cem pessoas infectadas com ebola entram num avião, por exemplo em Conacri, na Guiné, para um chegar a esse destino. No Brasil, o risco de cerca de 0,27% significa que 370 pessoas infectadas com ebola precisariam embarcar no Senegal, e uma delas chegar ao Brasil", contou Dirk Brockmann, autor do modelo.

O risco aumenta consideravelmente quando um país possui voos diretos entre os países afetados pela epidemia, o que não é o caso do Brasil.

1 bilhão de dólares serão necessários

A atual epidemia de ebola já chegou a cinco países da África, deixando mais de 2.400 mortos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que sejam necessários cerca de 1 bilhão de dólares para conter o surto e até lá mais de 20 mil pessoas podem ser infectadas.

A organização pede ajuda internacional para combater o vírus. O Brasil afirmou que doará 1 milhão de reais para a OMS para ajudar no combate. Além disso, o país forneceu a Guiné equipamentos de segurança e medicamentos, suficientes para atender cerca de 500 pessoas por três meses e prepara também o envio desses kits para Serra Leoa e Libéria.