Após tufão, epidemias ameaçam as Filipinas
14 de novembro de 2013Estradas destruídas, escombros de prédios, corpos humanos e de animais em decomposição. "Parece uma guerra", diz Andreas Schultz, diretor da ONG internacional Médicos do Mundo, referindo-se à situação nas Filipinas após o supertufão Haiyan. Ele já enviou sua segunda equipe de socorro ao país. Junto com colegas locais, ela vai cuidar do atendimento médico de emergência para os feridos nas ilhas Visayas.
Schultz relata que o grupo formado por médicos, especialistas em logística e psicólogos enfrenta grandes dificuldades no local da tragédia. "No momento, o maior problema é conseguir chegar aos lugares", disse o médico em entrevista à Deutsche Welle, acrescentando que a infraestrutura do país praticamente foi aniquilada. Ele conta que sua equipe precisou de quatro horas para ir do aeroporto de Tacloban até o local onde está, um trajeto que antes durava cerca de 20 minutos.
Paraíso para germes e insetos
As condições higiênicas são preocupantes, alerta Schultz. "Há lixo por todo lado, sobretudo fezes. É um ninho tremendo para germes, que podem se alastrar." Christina Frank, epidemiologista do Instituto Robert Koch, concorda que o principal problema são as fezes que contaminam a água – cadáveres humanos e de animais estão em segundo plano.
O furacão infectou os poços e destruiu os encanamentos de água e esgoto. "Agora, há a ameaça de diarreias infecciosas. Mas doenças como a leptospirose, hepatite A e E, transmissíveis através de fezes, também representam risco. Feridas podem infeccionar facilmente, no contato com água contaminada e sujeira."
Frank também chama a atenção para os focos de água parada. Devido à inundação com água do mar e às chuvas pesadas, formaram-se muitas poças e pequenos lagos, que só secam lentamente. "Onde há uma grande quantidade de água, os insetos têm as melhores condições de se reproduzir. Há muitas doenças que são transmitidas por insetos, como malária ou dengue", explica Christian Meyer, do Instituto Bernhard Nocht para Medicina Tropical.
Água potável deve ser prioridade
Mas ele teme que sobretudo as doenças transmitidas através de água contaminada possam se disseminar pelas Filipinas. "Quando a água é infectada, é muito difícil evitar a ocorrência de epidemias através de estações de tratamento." Em especial doenças como a cólera, que na Ásia ocorrem periodicamente de forma isolada, podem resultar em grandes epidemias, sob tais condições.
Para Christina Frank, no entanto, a cólera seria apenas a ponta do iceberg. "Tifo também é uma doença muito grave, que pode ser fatal se não houver tratamento." Também as doenças diarreicas, que em circunstâncias normais não representam ameaça à vida, podem se tornar perigosas, ressalta a epidemiologista. "Se a situação alimentar é ruim, o sistema imunológico fica enfraquecido. Uma diarreia relativamente normal já pode se tornar um risco de vida, especialmente para crianças."
Doenças bacterianas, tais como ferimentos infeccionados, são relativamente fáceis de debelar com antibióticos. Por isso, Frank considera importante que esses medicamentos sejam disponibilizados. Ela aponta também para a necessidade de se cogitar quanto a uma vacinação sistemática contra o tétano, lembrando que o problema eclodiu, por exemplo, após o tsunami na Indonésia. "No entanto, o mais importante é garantir o fornecimento de água potável e de alimentos, e construir latrinas, para evitar que o esgoto continue poluindo a água potável."