Aquecimento pode mudar alimentação dos alemães
22 de julho de 2003A cada ano os termômetros registram temperaturas mais elevadas e acontecem fenômenos climáticos extraordinários. No verão de 2002, o excesso de chuva fez transbordar os rios do Leste da Alemanha. Em 2003, está sendo o contrário: a ausência de chuvas já baixou o nível das águas e ameaça agora a safra de cereais, que são a base da alimentação dos alemães.
O trigo é o principal cereal, consumido sob a forma de pães, massas, biscoitos, etc. Mas há diferentes espécies de trigos, que são mais ou menos resistentes às variações climáticas. Se as temperaturas continuarem subindo, os alemães passarão a plantar espécies mais robustas de cereais, explica Jörg Michael Greef, especialista do Departamento Federal de Pesquisas Agrícolas (FAL).
Ele cita como exemplo o trigo sarraceno (Fagopirum esculentum moench), o trigo esbelta (Triticum spelta) e mesmo a quínua (Chenopodium quinoa), um cereal bastante consumido nas regiões andinas da Bolívia, que é vendido normalmente nas lojas de produtos naturais.
Safras perdem de 40% a 60%
O ano de 2003 não chega a ser uma catástrofe meteorológica. Mas primavera foi excepcionalmente seca e registrou geadas noturnas. Isto afetou o desenvolvimento das folhas e restringiu o número de grãos dos cereais, de forma que as plantas tiveram dificuldade em reagir à ausência de chuvas do mês de julho. Resultado: a safra de grãos sofrerá perdas entre 40% a 60%.
Normalmente, os solos alemães retêm quantidade suficiente de água, de forma que apenas 3% das lavouras são irrigadas artificialmente. No final do inverno, que é uma estação de chuvas e neves, os solos alemães estão tão saturados de água que podem compensar um longo período sem chuvas. Por isso é que não há na Alemanha uma seca comparável à da África ou à do Nordeste brasileiro.
Mas quando o solo não consegue mais reter água, as plantas deixam de crescer. As batatas ficam pequenas e os grãos de cereais mal formados. Em 1976 e 1992 houve secas piores na Alemanha, mas este ano a queda de preços no mercado mundial e a diminuição dos subsídios agrícolas afetou mais duramente os agricultores. Além disso, a safra de 2002 já fora ruim por causa do excesso de chuvas.
Batatas fritas mais caras
Os prejuízos da seca ainda não se refletiram nos preços cobrados ao consumidor, afirmou a Central dos Preços e Mercados (22/07/2003). A farinha de trigo deverá subir de preço, mas isto não afetará o custo do pão, pois a farinha representa uma pequena porcentagem do preço.
Os legumes também não sofrerão grandes conseqüências, pois 80% das culturas podem ser irrigadas artificialmente.
O que ficará mais caro mesmo, são as batatas fritas. As batatas de grande tamanho, necessária à indústria de batatas fritas congeladas, tornaram-se raras por causa da seca. E as altas temperaturas impedem o crescimento das batatas, mesmo nas culturas de irrigação artificial.